O oncologista Vladimir Galvão (foto), pesquisador do Early Clinical Drug Development Group no Instituto de Oncologia do Hospital Vall d’Hebron, em Barcelona, é primeiro autor de estudo de coorte que avaliou a quimioterapia de resgate após imunoterapia em pacientes com tumores sólidos refratários. O trabalho foi selecionado para apresentação em pôster no ESMO 2020 (1068P).
Relatos de casos e estudos não controlados mostraram ótimas respostas à quimioterapia em pacientes com tumores sólidos e neoplasias hematológicas após o uso de imunoterapia, sugerindo uma quimiossensibilização dos inibidores de checkpoint.
Nesse estudo, os pesquisadores investigaram esse efeito em um banco de dados prospectivo de pacientes incluídos em ensaios de fase I com imunoterapia, inibidores de tirosina quinase (TKI) ou agentes epigenéticos (EPI).
Todos os pacientes com tumores sólidos participantes de ensaios de fase I no Instituto de Oncologia Vall d´Hebron foram acompanhados pós-progressão e avaliados quanto à resposta à quimioterapia com base na prática clínica padrão. Uma população combinada foi identificada a partir da aplicação de um escore de propensão (CT pós-IO vs. CT pós-TKI) ajustado para fatores clínico-patológicos que poderiam influenciar a resposta à quimioterapia e o prognóstico. Os desfechos foram taxa de resposta objetiva (ORR) por RECIST e sobrevida livre de progressão (PFS).
Resultados
De 986 pacientes inscritos entre 2010 e 2019, 132 receberam quimioterapia pós-progressão (pós-IO em 55 pacientes [42%], pós-TKI em 70 pacientes [53%] e pós-EPI em 7 pacientes [5%]). A mediana de idade foi de 61 anos, 66% dos participantes eram mulheres, e os tumores mais comuns foram mama (22%), cabeça e pescoço (12%), colorretal (10%) e melanoma (10%). A mediana das linhas anteriores nos grupos quimioterapia pós-IO ou quimioterapia pós-EPI foi 2, e nos pacientes do grupo quimioterapia pós-TKI foi 3 (P = 0,02).
Resposta parcial (PR) de 5% e doença estável de 38% foram alcançadas com o medicamento de ensaio de fase I. Na quimioterapia pós-progressão, a ORR foi de 16,4% pós-IO, 8,6% pós-TKI e 14,3% pós-EPI (P = 0,43). Um modelo de Cox não ajustado não mostrou diferenças na sobrevida livre de progressão à quimioterapia entre os grupos (2,4 meses pós-IO, 2,8 meses pós-TKI e 10,3 meses pós-EPI; P> 0,14 todas as comparações). Devido ao pequeno número, os pacientes pós-EPI foram excluídos da análise de escore de propensão.
A coorte pós-imunoterapia (n = 55) e pós-TKI (n = 55) combinada em que se aplicou o escore de propensão não mostrou diferenças na ORR com quimioterapia (odds ratio 1.96 em favor de pós-IO, 95% CI 0,6-6,3, P = 0,27) ou sobrevida livre de progressão com quimioterapia (hazard ratio de 0,85 em favor de pós-IO, 95% CI 0,6-1,3; P = 0,44). Em um modelo multivariável, os preditores de resposta parcial com quimioterapia pós-progressão em estudos de fase I foram câncer de mama (OR = 16,3; p = 0,002) e benefício clínico durante os estudos (OR = 5,18; p = 0,04).
“Apesar da taxa de resposta objetiva ter sido numericamente maior com quimioterapia pós-IO em comparação com pós-TKI, este estudo de coorte controlado não mostrou diferenças significativas de sobrevida livre de progressão com quimioterapia de resgate entre os grupos, questionando o efeito de quimiossensibilização de drogas imunoterápicas em tumores sólidos”, concluíram os autores.
Referência: 1068P Rescue chemotherapy (CT) after immune-oncology (IO) drugs in patients (pts) with refractory solid tumours: A propensity score (PS) matched cohort study - V. Galvão et al