Aaron Kesselheim (foto), professor da Faculdade de Medicina de Harvard e do Brigham and Women’s Hospital, é autor sênior de estudo apresentado no ESMO 2020 comparando endpoints de estudos pivotais nos Estados Unidos e Europa, envolvendo agentes para cânceres raros e não raros.
O impacto em sobrevida global é reconhecidamente um resultado clínico importante para novos medicamentos contra o câncer, definido como o tempo desde a data da randomização até a morte por qualquer causa. “Endpoints substitutos, como sobrevida livre de progressão ou taxa de resposta global podem fornecer informações enganosas sobre eficácia. No entanto, para cânceres raros, como demonstrado pela campanha Rare Cancers Europe (RCE), da ESMO, os surrogates podem ser valiosos ou mesmo a única maneira de mostrar benefício”, descrevem os autores.
A agência de regulação norte-americana FDA e a autoridade regulatória europeia EMA introduziram a designação de medicamentos órfãos para incentivar o desenvolvimento de medicamentos para doenças raras, o que inclui novos agentes para tumores raros.
Nesta análise foram identificados os novos medicamentos contra o câncer aprovados pela FDA entre 2009 e 2019 para o tratamento de tumores sólidos e hematológicos em adultos, assim como as aprovações feitas pela EMA em dezembro de 2019. Os testes de Fisher foram realizados para avaliar a associação entre os principais endpoints dos estudos pivotais (SG vs. não SG) considerando tanto a designação de medicamentos órfãos da FDA e EMA quanto os critérios definidos pela RCE.
Resultados
76 medicamentos foram aprovados pelo FDA e EMA durante o período do estudo. Nos EUA, 39 medicamentos (51%) foram registrados com base no benefício de sobrevida global, em contraste com 49 (64%) na União Europeia; 50 (66%) medicamentos foram designados como órfãos pelo FDA, 17 (22%) pela EMA.
Houve uma associação entre cânceres raros, conforme definido pela RCE e indicações de drogas designadas com status de órfão pelo FDA (p=0,007) ou EMA (p <0,001). No entanto, não houve associação entre os endpoints do estudo principal (SG vs. não SG) e o medicamento órfão de acordo com a designação pelo FDA (p=0,094) ou EMA (p> 0,9). Também não houve associação entre cânceres raros, conforme definido pelo RCE, e os endpoints dos ensaios pivotais, esclarecem os autores.
“A aprovação de medicamentos para cânceres raros não deve mais ser alinhada com endpoints de sobrevida global nos ensaios pivotais. No entanto, uma vez que desfechos substitutos podem não ser adequadamente preditivos de resultados centrados no paciente, medicamentos contra o câncer aprovados com base em surrogates devem ser acompanhados de perto após a aprovação para oferecer aos pacientes o valor ideal”, concluem.
Referência: 1586MO - Pivotal trial endpoints of drugs for rare and non-rare cancers in the US and Europe - K.N. Vokinger, P. Daniore, A.S. Kesselheim