GIST é o sarcoma mais comum do trato gastrointestinal e mutações primárias no KIT ou PDGFRA ocorrem em > 85% dos pacientes e ativam as quinases. Um novo inibidor de tirosina-quinase, ripretinib mostrou resultados de sobrevida em pacientes politratados no estudo de Fase III INVICTUS. Agora, nova análise destacada em sessão oral na ESMO GI 2020 mostra também dados de eficácia e segurança após o crossover. “Ripretinib surge como uma nova opção eficaz para o tratamento do GIST avançado, em um cenário de poucas opções farmacológicas”, avalia o oncologista Cícero Martins (foto), médico do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e do Américas Oncologia.
INVICTUS é um ensaio randomizado duplo-cego de Fase III que incluiu 29 centros de tratamento em 12 países nos Estados Unidos, Europa e Ásia.
Foram elegíveis pacientes com GIST submetidos a pelo menos 3 linhas de tratamento. Um total de 129 pacientes cumpriu os critérios e foi randomizado (2:1) para receber ripretinib ou placebo. O endpoint primário foi sobrevida livre de progressão (SLP) por RECIST modificado, na avaliação de comitê independente. Endpoints secundários incluíram taxa de resposta objetiva (ORR, da sigla em inglês) e sobrevida global (SG).
No momento da progressão da doença, confirmada por revisão central independente e cega, o protocolo permitiu descontinuar ou manter o tratamento. Aqueles inscritos no braço-placebo tiveram a opção de cruzar (crossover) para o braço de ripretinib.
Os resultados de eficácia apresentados na ESMO GI por César Serrano (foto), do Vall d'Hebron Institute of Oncology, refletem o subgrupo que recebeu ripretinib após progressão. O tratamento trouxe benefício significativo na sobrevida livre de progressão versus placebo, reduzindo o risco de progressão ou morte em 85% (mediana de 6,3 meses versus 1,0 mês; HR=0,15; p < 0, 0001). Serrano destacou, ainda, o benefício de sobrevida global nessa população politratada (15,1 meses vs 6,6 meses; HR =0,36). “É a primeira vez que um inibidor de quinase mostra ganho de sobrevida global em pacientes de GIST que progrediram a imatinibe mesmo a despeito de 65% dos pacientes no braço placebo terem utilizado ripretinib, o que comprova a eficácia da droga”, enfatizou.
A taxa de resposta objetiva, principal endpoint secundário, foi de 9,4% contra 0% no braço placebo.
Dos 44 pacientes que integraram o braço placebo durante o período de cegamento, 29 cruzaram (crossover) para o tratamento ativo após progressão. Nessa população, a mediana de sobrevida livre de progressão 2 (do início do tratamento com ripretinibe até a progressão) foi de 4,6 meses. A sobrevida global mediana foi de 11,6 meses. “Importante ressaltar que os 15 pacientes do braço placebo que não utilizaram ripretinib não o fizeram por rápida deterioração clínica, o que ressalta a natureza agressiva do GIST recidivado”, observa Martins.
Esses dados sugerem que ripretinibe conseguiu estabelecer o controle da doença, mesmo naqueles que tiveram atraso no início do tratamento. “Entretanto, é importante destacar que a magnitude do benefício é maior quando utilizado mais inicialmente no curso tratamento oncológico, o que leva ao racional de comparar ripretinib com outras drogas em linhas anteriores como sunitinibe”, destaca o oncologista.
Eventos adversos relacionados ao tratamento ocorreram em > 15% dos pacientes. Nenhum novo sinal de segurança foi observado entre aqueles que fizeram o crossover em relação ao perfil já descrito na fase de cegamento do estudo.
Referência: Oral-13: Efficacy and safety of ripretinib as ≥4th-line therapy for patients with gastrointestinal stromal tumor (GIST) following crossover from placebo: Analyses from INVICTUS - César Serrano et al