Rodrigo Gonçalves (foto), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, é primeiro autor de meta-análise aceita no programa científico do San Antonio Breast Cancer Symposium, que discute a segurança oncológica do lipofilling após cirurgia de câncer de mama.
Os autores descrevem que a lipoenxertia autóloga (AFG) para reconstrução mamária apresenta dificuldades durante os exames radiológicos de acompanhamento e o potencial oncológico da gordura enxertada ainda alimenta controvérsias. O objetivo desta revisão sistemática e meta-análise foi justamente analisar a segurança oncológica do lipofilling.
Foram consideradas as bases de dados da Medline, EMBASE e LILACS, considerando a literatura publicada até 05/07/2020. Os resultados foram sobrevida global (SG), sobrevida livre de doença (SLD) e recorrência local (LR). Foram incluídos ensaios clínicos randomizados, estudos de coorte e estudos de caso-controle que avaliaram mulheres com diagnóstico de câncer de mama que se submeteram à cirurgia seguida de reconstrução com AFG.
Os resultados revelam que 16 estudos preencheram os critérios de elegibilidade, refletindo 8.667 pacientes incluídos, com idade média de 49 anos. As indicações da cirurgia mamária foram carcinoma de mama invasivo (66,1%), carcinoma in situ (18,4%) e motivos profiláticos (15,5%).
Dos 16 estudos revisados sistematicamente, 10 descreveram a técnica usada para realizar o AFG como preconizado (Coleman et al, 2007). Em 9 de 16 estudos não houve diferença no tratamento adjuvante entre os grupos de análise. Dois estudos não mencionam diferenças na população avaliada e em 4 trabalhos tratamentos adjuvantes diferentes foram empregados nos braços de controle e intervenção. A avaliação da qualidade resultou em 11 estudos sendo considerados "bons", 4 classificados como 'Regular' e 1 estudo foi considerado ruim.
A razão de risco (HR) para sobrevida global (SG) foi definida em quatro estudos e o aumento de SG para o grupo de lipofilling foi detectado com alta heterogeneidade (HR 0,47, IC 95% 0,32 a 0,7, p = 0,0002, 2331 pacientes, I2 = 84%, evidência de alta certeza). A análise (gráfico em funil) indicou alto risco de viés de uma publicação (Krastev et al) que incluiu 587 pacientes. A análise que excluiu este artigo não encontrou diferença de sobrevida global entre o grupo de lipofilling e não detectou viés de publicação (HR 0,9, IC 95% 0,53 a 1,54, p = 0,71, 1744 pacientes, I2 = 58%, evidência de alta certeza).
A razão de risco (HR) para sobrevida livre de progressão (SLP) foi extraída de seis estudos e nenhuma diferença foi encontrada entre o grupo de lipofilling e o grupo-controle (HR 1,01, IC de 95% 0,73 a 1,38, p = 0,96, 2.755 pacientes, I2 = 0%, evidência de alta certeza).
O HR para LR foi extraído de dez estudos e nenhuma diferença foi encontrada entre o grupo de lipofilling e o controle (HR 0,86, IC 95% 0,66-1,12, p = 0,43,6839 pacientes, I2 = 1%, evidência de certeza moderada). No entanto, a análise (gráfico em funil) indicou o viés de publicação de um estudo (Petit et al.) que incluiu apenas tumores DCIS. A análise excluindo este artigo não demonstrou diferença nos resultados. (HR 0,8, IC 95% 0,61 a 1,05, p = 0,94, 6.662 pacientes, I2 = 0%, evidência de certeza moderada).
Em conclusão, os autores descrevem que AFG é uma técnica segura de reconstrução mamária para pacientes que se submeteram à cirurgia de câncer de mama. “De acordo com nossas descobertas, AFG não afetou a SG, SLD ou recorrência local. Esse estudo consolida a segurança do lipofilling na cirurgia reparadora da mama e os mastologistas e cirurgiões plásticos podem empregar essa técnica com tranquilidade em benefício das pacientes portadoras de câncer de mama submetidas à cirurgia”, conclui Gonçalves.
Referência: PS1-22 - The oncological safety of lipofilling after breast cancer surgery: A meta-analysis - Rodrigo Goncalves et al.