Estudo com participação de instituições da Argentina, Brasil, Chile, México e Uruguai mostrou na AACR 2021 resultados que correlacionam análises de PAM50 com uma classificação substituta de avaliação de risco no câncer de mama estágio II-III baseada em características clínicas e de imuno-histoquímica. A análise considera mulheres latino-americanas inscritas no estudo US-LACRN e no Brasil tem a participação do Instituto Nacional do Câncer (INCA), AC Camargo Cancer Center, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Instituto de Câncer de São Paulo (ICESP) e Hospital de Câncer de Barretos. "Esse é o primeiro estudo do perfil molecular de tumores de mama de mulheres da América Latina", destaca a biologista molecular Dirce Carraro (foto), responsável pelo Laboratório de Diagnóstico Genômico do A.C.Camargo Cancer Center e uma das pesquisadoras envolvidas no estudo.
Os pacientes elegíveis (N = 1300) foram caracterizados clínica, patológica e epidemiologicamente e acompanhados por 5 anos. Os subtipos de IHC foram avaliados de acordo com os critérios de St Gallen de 2013, usando Ki67 para discriminar tumores LumB de LumA. Um total de 1.071 tumores foram caracterizados por microarrays de expressão gênica. A classificação PAM50 definiu 45% dos tumores como LumA, 19,7% como LumB, 13,8% como HER2E e 17,5% como Basal.
Tumores do tipo normal (6,3%) foram excluídos da análise. O valor prognóstico da PAM50 e das classificações de IHC em 5 anos foi correlacionado considerando os desfechos de sobrevida global (SG) e sobrevida livre de progressão (SLP).
O prognóstico para os tumores LumA foi significativamente melhor do que para outros subtipos, enquanto os tumores do tipo basal tiveram o pior prognóstico. Os achados demonstram que o valor prognóstico dos subtipos baseados em IHC (C-index 0,698 para SG e 0,635 para SLP) foi muito semelhante ao da classificação PAM50 (C-index 0,678 para SG e 0,639 para SLP), indicando que na coorte US-LACRN-MPBCS a classificação substituta foi tão útil quanto o PAM50 para discriminar o risco de recorrência.
Os autores destacam que o risco de recorrência do PAM50 (RORs), em particular o ROR-S (índice C 0,699 para SG, 0,649 para SLP), discrimina claramente grupos de risco baixo, intermediário e alto. A análise da via transcriptômica mostrou alta proliferação (isto é, controle do ciclo celular e reparo de danos ao DNA) associada a tumores LumB, HER2E e basal, e uma forte dependência da via estrogênica para LumA.
“No geral, foi confirmada a concordância das características moleculares dos tumores de câncer de mama US-LACRN-MPBCS com os de outras coortes. A mudança para subtipos não luminais pode ser parcialmente atribuída ao viés de recrutamento para estágios avançados“, observam os autores. Análises adicionais podem ajudar a revelar diferenças mais sutis nesta população heterogeneamente misturada, propõem.
"Um dado bastante importante desse estudo nessa coorte de mulheres que foram acompanhadas por 5 anos é que diferente dos resultados de outras coortes, o poder prognóstico da classificação baseada em marcadores imunohistoquímicos foi semelhante à classificação baseada no subtipo molecular (PAM50), sugerindo que a classificação imunohistoquímica pode ser igualmente útil para discriminar as pacientes de acordo com o risco de recorrência", conclui Dirce.