Onconews - ASCO destaca importância do rastreamento de câncer de próstata em afro-americanos

carlos anselmo lima bxEstudo observacional apontado entre os destaques do ASCO 2021 indica que o rastreamento do câncer de próstata pode ser útil em indivíduos de alto risco. A análise é de pesquisadores da Universidade da Califórnia e envolveu quase 5 mil afro-americanos de 40 a 55 anos. Os resultados sugerem que aumentar a intensidade do rastreamento por PSA nessa população reduziu em quase 40% o risco de doença metastática de novo, com redução de quase 25% no risco de morte entre os mais jovens. Carlos Anselmo Lima (foto), coordenador do Registro de Câncer de Base Populacional de Aracaju, comenta os resultados.

"Como estudos não demonstraram a utilidade do rastreamento populacional do câncer de próstata com PSA, vários países emitiram recomendações contra essa prática, incluindo o Brasil. A consequência foi a diminuição das taxas de incidência, embora com manutenção de valores maiores do que no período pré-PSA. Alguns estudos direcionaram para a possibilidade de que haja diferença de incidência e mortalidade associada aos fatores genéticos e raciais. Assim, o rastreamento do câncer de próstata poderia ser baseado no risco individual, a partir de fatores como idade, raça e história familiar. Especificamente para as características raciais, os americanos afro-descendentes são considerados com risco aumentado para câncer de próstata, inclusive com pior prognóstico", observa Lima.

Dados já reportados na literatura mostram que pacientes afro-americanos (AA) têm 50% mais probabilidade de desenvolver câncer de próstata e mais que o dobro de risco de morrer de câncer de próstata do que pacientes brancos. No entanto, as atuais diretrizes da Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA recomendam a triagem por PSA a partir dos 55 anos. 

Nesta análise foram considerados 4.726 pacientes AA do banco de dados da Veterans Health Administration, com idades entre 40-55 anos, diagnosticados com câncer de próstata de 2004 a 2017. Os pesquisadores examinaram a associação entre a intensidade do rastreamento por PSA pré-diagnóstico e os resultados dos pacientes, compreendendo a severidade da doença ao diagnóstico e a mortalidade específica por câncer de próstata.

 A intensidade do rastreamento foi definida como a porcentagem de anos de screening no período que antecedeu o diagnóstico de câncer, enquanto o período de observação pré-diagnóstico variou de 1-5 anos (mediana = 5 anos). A regressão logística multivariada foi usada para avaliar a influência da intensidade do rastreamento por PSA na doença metastática ao diagnóstico.

Nesta grande coorte nacional, o aumento da intensidade do exame de PSA foi associado a uma redução de quase 40% no risco de doença metastática no momento do diagnóstico (odds ratio: 0,61, intervalo de confiança de 95% (CI) = [0,47-0,81], p <0,01) e a uma redução de quase 25% no risco de morte por câncer de próstata em pacientes afro-americanos mais jovens (sub-distribution hazard ratio: 0.75, 95% CI = [0.59-0.95], p = 0.02).

Para Edmund M. Qiao, autor principal do estudo e pesquisador da Universidade da Califórnia, em San Diego, os dados sugerem que o exame de PSA em idades mais precoces pode melhorar os resultados do câncer de próstata em homens afro-americanos. “São dados que também nos aproximam de abordar as disparidades raciais que existem no câncer de próstata”, acrescentou.

Para a presidente da ASCO, Lori J. Pierce, este estudo reforça a importância das discussões individuais entre médicos e pacientes sobre os riscos e benefícios do exame de PSA. “Não existe uma abordagem única para todos, especialmente para pacientes com maior risco de câncer de próstata, como os homens afro-americanos. Este estudo observacional nos mostra que a triagem pode ser útil até mesmo em afro-americanos mais jovens”, disse ela.

"Após análise final, os autores concluíram que o aumento da intensidade do rastreamento foi associado à diminuição do risco de doença metastática ao diagnóstico de 3,7% para 1,4%, e com isso houve diminuição da mortalidade específica por câncer de próstata. Trata-se de um trabalho importante, mas esse desenho de estudo apenas conduz à hipótese de que o rastreamento com PSA e a detecção precoce do câncer de próstata possa beneficiar afro-americanos jovens no combate a esse tipo de câncer. É necessário, portanto, o desenvolvimento de estudos prospectivos futuros para confirmar essa hipótese", conclui Lima.

Referência: Association of increased intensity of prostate-specific antigen screening in younger African American men with improved prostate cancer outcomes.
Autores: Edmund Qiao, Nikhil Kotha, Vinit Nalawade, Alexander Qian, Rohith Voora, Tyler Nelson,Tyler Stewart, John Parsons, Brent Rose