A médica e pesquisadora brasileira Ingrid Mayer (foto), do Vanderbilt-Ingram Cancer Center, é primeira autora de estudo do grupo cooperativo ECOG/ACRIN apresentado no ASCO 2021 e com publicação simultânea no Journal of Clinical Oncology (JCO). Destacado em sessão oral, o estudo mostra que agentes de platina não melhoram a sobrevida livre de doença em pacientes com câncer de mama triplo-negativo (TNBC) do subtipo basal pós-quimioterapia neoadjuvante, e estão associados a maior toxicidade quando comparados com capecitabina.
Pacientes com TNBC e doença invasiva residual (RD) após a conclusão da quimioterapia neoadjuvante (NAC) têm alto risco de recorrência, que é reduzido pela capecitabina adjuvante. O estudo EA1131 levantou a hipótese de que a sobrevida livre de doença invasiva (iDFS, da sigla em inglês) seria melhor em pacientes com TNBC subtipo basal tratados com platina adjuvante em comparação com capecitabina.
Este estudo inscreveu pacientes com TNBC com estágio clínico II ou III com doença residual na mama ≥ 1 cm pós-quimioterapia neoadjuvante, randomizadas para receber platina (carboplatina ou cisplatina) uma vez a cada 3 semanas por quatro ciclos ou capecitabina 14 de 21 dias a cada 3 semanas por seis ciclos. O subtipo de TNBC (basal vs não basal) foi determinado por PAM50 na doença residual. O limiar de não-inferioridade assumiu um intervalo livre de doença invasiva em 4 anos de 67% com capecitabina.
O Comitê de Monitoramento de Dados e Segurança recomendou interrupção do estudo em março 2021, uma vez que a 5ª análise provisória relatou que não seria possível demonstrar não-inferioridade ou superioridade dos agentes platinantes em relação a capecitabina, e toxicidades de grau 3 e 4 (predominantemente mielosupressao) foram mais comuns com agentes platinantes. Entre 2015 e 2021, 410 de 775 participantes planejados foram randomizados para platina ou capecitabina. Após acompanhamento mediano de 20 meses, com 120 eventos iDFS (61% das informações completas) nos 308 (78%) pacientes com TNBC subtipo basal, o iDFS de 3 anos para platina foi de 42% (95% CI, 30 a 53) versus 49% (95% CI, 39 a 59) para capecitabina.
Em resumo, Mayer e colegas mostram que os agentes platinantes não melhoram os resultados em pacientes com TNBC com doença residual e subtipo basal pós-NAC e estão associados a piores efeitos colaterais quando comparados com a capecitabina. “Os participantes tiveram um iDFS de 3 anos muito pior que o esperado, independentemente do tratamento do estudo, enfatizando a necessidade de melhores terapias nesta população de altíssimo risco”, destacam os autores.
Referência: Abstract 605 - Randomized Phase III Postoperative Trial of Platinum-Based Chemotherapy Versus Capecitabine in Patients With Residual Triple-Negative Breast Cancer Following Neoadjuvant Chemotherapy: ECOG-ACRIN EA1131 - Ingrid A. Mayer et al. - DOI: 10.1200/JCO.21.00976 Journal of Clinical Oncology - Published online June 06, 2021.