Onconews - VISION trial: Lu-PSMA aumenta sobrevida global no mCRPC previamente tratado

jose mauricio 21 bxSelecionado para a Sessão Plenária do ASCO 2021 (LBA4), o estudo VISION demonstrou que a adição de 177Lu-PSMA-617 ao tratamento padrão ou de suporte melhorou significativamente a sobrevida livre de progressão radiográfica (rPFS) e a sobrevida global (SG) em pacientes com câncer de próstata metastático resistente à castração (mCRPC) em comparação com o padrão de cuidados isolado. “Os resultados do estudo VISION impactarão de forma significativa a prática médica”, observa o oncologista José Maurício Mota (foto), chefe do Serviço de Oncologia Clínica Geniturinária do ICESP/FMUSP e médico da Oncologia D’Or. O oncologista Michael J. Morris, chefe da Seção de Câncer de Próstata no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York, é o primeiro autor do trabalho.

Apesar dos recentes avanços terapêuticos, o mCRPC permanece incurável. As opções de tratamento atuais incluem quimioterapia, antiandrogênicos e terapias-alvo.

“O antígeno de membrana prostático específico (PSMA) é uma proteína transmembrana altamente expressa no câncer de próstata, incluindo a doença metastática. Com essa alta expressão, o PSMA é um alvo terapêutico atraente, e o 177Lu-PSMA-617 é uma terapia-alvo radioligante que emite radiação de partículas ß, induzindo dano ao DNA tumoral”, esclarecem os autores.

O estudo randomizado, aberto, de fase III VISION avaliou o uso de 177Lu-PSMA-617 em homens com câncer de próstata metastático resistente à castração (mCRPC) PSMA-positivo previamente tratados com antiandrogênicos de última geração e regimes de taxano. Lesões metastáticas eram consideradas PSMA-positivas desde que o limiar de captação fosse maior que o background hepático de acordo com a revisão central dos exames de PET utilizando o radiotraçador 68Ga-PSMA-11.

Os pacientes foram randomizados 2: 1 para 177Lu-PSMA-617 (7,4 GBq a cada 6 semanas x 6 ciclos) mais o tratamento padrão (SOC) versus SOC isolado. O tratamento padrão foi determinado pelo investigador, e excluiu quimioterapia citotóxica e rádio-223.

Os desfechos primários foram sobrevida livre de progressão radiográfica (rPFS) usando critérios PCWG3 por revisão central independente (ICR) e sobrevida global (SG). Sob a hipótese nula, rPFS mediano foi assumido como sendo 4 meses e SG 10 meses para 177Lu-PSMA-617 + SOC para uma razão de risco (HR) de 1,00. Na hipótese alternativa, a mediana do rPFS foi presumida como 6 meses para um HR de 0,67 e a mediana de SG 13,7 meses para um HR de 0,7306. Os principais desfechos secundários foram taxa de resposta objetiva (ORR; RECIST v1.1), taxa de controle da doença (DCR) e tempo até o primeiro evento esquelético sintomático (SSE).

Resultados 

Entre 4 de junho de 2018 e 23 de outubro de 2019, 831 de 1.179 pacientes selecionados foram randomizados 2: 1 para receber 177Lu-PSMA-617 + SOC (n = 551) ou apenas SOC (n = 280). O acompanhamento médio do estudo foi de 20,9 meses, com cut off de dados em 27 de janeiro de 2021. Os grupos de tratamento foram equilibrados em termos de dados demográficos e características no baseline.

177Lu-PSMA-617 + SOC melhorou significativamente a rPFS em comparação com o tratamento padrão isolado (mediana rPFS 8,7 vs 3,4 meses; HR, 0,40 [99,2% CI: 0,29, 0,57]; p <0,001, unilateral). A sobrevida global também foi significativamente melhorada versus SOC isolado (mediana de SG 15,3 vs 11,3 meses; HR, 0,62 [IC 95%: 0,52, 0,74]; p <0,001, unilateral).

Todos os principais desfechos secundários foram estatisticamente significativos entre os braços de tratamento em favor de 177Lu-PSMA-617 + SOC, incluindo ORR determinada por ICR (29,8% vs 1,7%), DCR determinado por ICR (89,0% vs 66,7%) e tempo para o primeiro SSE (11,5 vs 6,8 meses; HR, 0,50). Embora tenha sido observada uma maior taxa de eventos adversos grau 3 ou maior relacionados ao tratamento com 177Lu-PSMA-617 (52,7% vs 38,0%), a terapia foi considerada bem tolerada.

“O tratamento com 177Lu-PSMA-617 mais SOC é um regime bem tolerado que melhora a rPFS e prolonga a sobrevida global em comparação com o padrão de cuidado isolado em homens com câncer de próstata metastático resistente à castração PSMA-positivo em estágio avançado, o que apoia sua adoção como padrão de tratamento”, destaca Morris.

Segundo Mota, já se sabia que a terapia com 177Lu-PSMA-617 estava associada a melhores desfechos em comparação com a quimioterapia de segunda linha com cabazitaxel, baseado em estudo de fase II com pequeno número de pacientes incluídos. “O estudo de fase III VISION demonstra agora pela primeira vez um ganho de sobrevida global com o 177Lu-PSMA-617 em comparação ao tratamento padrão em uma população de pacientes previamente tratados com antiandrógenos e taxanos. Esses dados darão suporte para a incorporação do uso de radiofármacos direcionado ao PSMA na prática clínica diária, mas é fundamental uma expertise de equipe multidisciplinar com oncologistas, urologistas e médicos nucleares trabalhando em conjunto para a melhor indicação do tratamento e obtenção de melhores resultados”, conclui.

O estudo foi financiado pela Endocyte, Inc./Novartis. 

Referência: Abstract LBA4:  Phase 3 study of lutetium-177-PSMA-617 in patients with metastatic castration-resistant prostate cancer (VISION). - Michael J. Morris et al