Destacado em sessão oral no ASCO GI 2021, o estudo FIGHT demonstrou que a adição de bemarituzumab ao FOLFOX modificado (mFOLFOX) melhorou significativamente a sobrevida e as taxas de resposta para pacientes com câncer gástrico avançado. Tiago Biachi de Castria (foto), oncologista do ICESP e do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, comenta os resultados.
Bemarituzumabe é um anticorpo monoclonal IgG1 humanizado first-in-class que se liga seletivamente ao FGFR2b. Em um estudo de fase I de monoterapia em tumores sólidos, bemarituzumabe não apresentou toxicidades limitantes de dose e demonstrou uma taxa de resposta objetiva confirmada (ORR) de 18% em pacientes com câncer gástrico refratário FGFR2b+.
O FIGHT é um estudo de Fase II global, randomizado, duplo-cego e placebo controlado. Pacientes com câncer gástrico localmente avançado ou metastático irressecável HER2- eram elegíveis caso o tumor fosse positivo para superexpressão de FGFR2b, seja por imunohistoquímica realizada centralmente (IHC) ou por amplificação no DNA tumoral circulante (ctDNA).
Os pacientes foram tratados com mFOLFOX6 e randomizados 1: 1 para bema 15 mg/kg ou placebo (pbo) a cada 2 semanas, com uma dose adicional de 7,5 mg/kg de bema/pbo no dia 8. O tratamento foi continuado até a progressão da doença, toxicidade intolerável ou morte. O endpoint primário foi a sobrevida livre de progressão (SLP) avaliada pelo investigador, e os principais desfechos secundários incluem sobrevida global (SG), taxa de resposta global (ORR) e frequência de eventos adversos. A significância estatística (2-sided α of 0.2) foi testada sequencialmente para SLP, SG e ORR.
Resultados
Entre os 910 pacientes com tumores avaliados, 275 (30%) eram FGFR2b+. 155 pacientes foram randomizados, 77 para bema + mFOLFOX6 e 78 para placebo + mFOLFOX6; 149 pacientes eram FGFR2b+ por IHC e 26 por ctDNA.
O estudo atingiu o endpoint primário, com um ganho na SLP de 9,5 meses (bema) vs 7,4 meses (pbo) (HR, 0,68; 95% CI, 0,44-1,04; p = 0,07). O endpoint secundário de SG também foi atingido; mediana não alcançada no braço bema vs 12,9 meses para placebo (HR, 0,58, 95% CI, 0,35-0,95; p = 0,03).
Entre os pacientes com doença mensurável, a ORR melhorou de 40% (pbo) para 53% (bema). O ganho em eficácia foi observado nos 3 endpoints (SLP, SG e ORR) com níveis crescentes de superexpressão de FGFR2b em células tumorais.
Foram relatados eventos adversos grau 3 em 83% dos pacientes no braço bema vs 74% pacientes no braço placebo, com eventos adversos graves em 32% e 36%, respectivamente. A estomatite foi maior no braço de bemarituzumab (31,6% vs 13,0%), assim como os eventos adversos da córnea (67% vs 10%). Não houve eventos adversos de descolamento de retina ou hiperfosfatemia no braço de bemarituzumab.
“Os dados do FIGHT demonstraram uma atividade promissora, principalmente pela possibilidade de um novo alvo em primeira linha para cancer gástrico, que caso se confirme em um futuro estudo de fase 3, seria incorporado ao CPS e HER-2, e que poderia ser identificado por um método simples como IHC”, avalia Castria.
O oncologista ressalta que os dados de eficácia precisam ser vistos com cautela, visto que as curvas de SLP se separam, em média, após a suspensão do FOLFOX, sendo, portanto, uma comparação entre o bema e placebo. “Isto reforça o papel da melhor seleção para o Fase III, uma vez que a combinação também mostrou toxicidade significativa, principalmente oftalmológica”, observa.
Os autores concluem que os resultados suportam um estudo prospectivo randomizado de Fase III no câncer gástrico, bem como a avaliação de bema em outros tipos de tumor FGFR2b+.
O estudo foi financiado pela Five Prime Therapeutics e está registrado em ClinicalTrials.gov, NCT03694522.
Abstract #: 160 Oral Abstract Session: Esophageal and Gastric Cancer - Randomized double-blind placebo-controlled phase 2 study of bemarituzumab combined with modified FOLFOX6 (mFOLFOX6) in first-line (1L) treatment of advanced gastric/gastroesophageal junction adenocarcinoma (FIGHT). - J Clin Oncol 39, 2021 (suppl 3; abstr 160)