Onconews - Assinatura genômica e de-escalonamento terapêutico no câncer de mama

ruffo mansani 400x225Fabio Postiglione Mansani (na foto, à direita), da Universidade Estadual de Ponta Grossa, e Ruffo de Freitas Júnior, da Universidade Federal de Goiás, são autores de estudo que analisou os resultados da aplicação do MammaPrint ™ em uma população brasileira. Comparada à população do MINDACT de pacientes com câncer de mama de alto risco clínico, a aplicação da assinatura genômica na coorte do estudo AGEMA-BRA revelou maior prevalência de pacientes com baixo risco genômico em todas as faixas etárias (exceto> 70 anos), indicando que a possibilidade de de-escalonar o tratamento é ainda mais significativa na população brasileira do que na europeia.

Neste estudo transversal, os pesquisadores utilizaram a assinatura MammaPrint™ para avaliar a prevalência de baixo e alto risco genômico em uma coorte brasileira entre 2016 e 2020 e comparar os resultados com a população de pacientes de alto risco clínico avaliada no estudo MINDACT.

A busca por tratamentos mais personalizados para pacientes com câncer de mama tem sido a marca da oncologia. É nesse sentido que cresce a busca pelo de-escalonamento das terapias utilizadas, principalmente as citotóxicas, com a aplicação de assinaturas genômicas que auxiliam a selecionar pacientes que não se beneficiarão da quimioterapia.

O estudo MINDACT avaliou o uso de MammaPrint ™ exclusivamente em uma população de nove países europeus. Nesta análise, os autores argumentam que a aplicação desta assinatura genômica em outras populações, especialmente em países de baixa e média renda, pode determinar maior segurança na universalização do teste. 

Resultados

Os resultados da análise apresentada no SABCS 2021 mostram que foi constatada a presença da assinatura de 70 genes com baixo risco genômico em 57,1% (542 pacientes) da população total do AGEMA-BRA, em comparação com 46,2% da população do estudo MINDACT (RR 1,23 (1,16-1,32; p <0,001).

Na análise de subgrupo por faixa etária, a coorte brasileira teve 13 pacientes (46,4%) com idade <35 anos, 151 pacientes (53,4%) com 35-49 anos, 321 pacientes (59,2%) de 50-70 anos e 54 pacientes (60,7%) >70 anos. No estudo MINDACT foram encontrados, respectivamente, 24% (RR 1,97; p = 0,038), 44,1% (RR 1,20; p = 0,006), 48,1% (RR 1,23; p <0,001), 61,5%. (RR 0,98; p = 0,936).

Quando avaliado o status menopausal, o baixo risco genômico representou 52,7% (164 pacientes, 43% em MINDACT, RR 1,23 (1,09-1,39 p = 0,002) na pré-menopausa e 59,3% (375 pacientes, 48% no MINDACT, RR 1,23 (1,14-1,33) p <0,001) na pós-menopausa.

“A avaliação dos resultados do estudo AGEMA-BRA, quando comparados aos do estudo MINDACT, demonstrou maior prevalência de pacientes com baixo risco genômico em todas as faixas etárias (exceto> 70 anos), indicando que a possibilidade de de-escalonar o tratamento é ainda mais significativa na população brasileira do que na europeia”, concluem os autores.
 

 

 

LR

HR

RR

CI

P.VALOR

All

BRAZIL

542 (57,.%)

408 (42.9%)

1.23

1.16-1.32

<0.001

 

MINDACT

1550 (46.2%)

1806 (53.8%)

   

<35 years

BRAZIL

13 (46.4%)

15 (53.6%)

1,97

1.13-3.43

0,038

 

MINDACT

20 (23.5%)

65 (76.5%)

   

35-49 years

BRAZIL

151 (53,4%)

132 (46,6%)

1,20

1.06-1.37

0,006

 

MINDACT

514 (44.1%)

651 (55.9%)

   

50-70 years

BRAZIL

321 (59.2%)

221 (40.8%)

1,23

1.13-1.34

<0.001

 

MINDACT

1000 (48.1%)

1080 (51.9%)

   

>70 years

BRAZIL

54 (60.7%)

35 (39.3%)

0,98

0.69-1.39

0,936

 

MINDACT

16 (61.5%)

10 (38.5%)

   

PREMENOPAUSE

BRAZIL

164 (52.7%)

147 (47.3%)

1,23

1.09-1.39

0,002

 

MINDACT

534 (42.7%)

716 (57.3%)

   

POSTMENOPAUSE

BRAZIL

375 (59.4%)

256 (40.6%)

1,23

1.14-1.33

<0.001

 

MINDACT

1016 (48.2%)

1090 (51,8%)

   

LR (low genomic risk), HR (high genomic risk), RR (relative risk), CI (confidence interval)

Estudo reforça a importância de disponibilizar plataformas genômicas para a população brasileira

Por Ruffo de Freitas

As assinaturas genômicas têm sido ferramentas úteis no planejamento do tratamento do câncer de mama, tornando-o mais adequado e mais personalizado, evitando que grande número de mulheres que não necessitem de quimioterapia citotóxica venha fazê-lo.

Especificamente para o Brasil havia sido notado previamente que a utilização do Oncotype-DX poderia, em pacientes do Sistema Único de Saúde, reduzir a possibilidade do uso de quimioterapia1.

No presente trabalho2 avaliamos o uso do Mammaprint como plataforma genômica, em mulheres brasileiras, estudando a prevalência de pacientes que apresentaram baixo risco genômico, o que indicaria a não necessidade de quimioterapia para essas pacientes. Fizemos uma comparação da prevalência, de acordo com diferentes faixas etárias, comparando com os dados originais do estudo Mindact3, que mostrara prevalência de 46% de pacientes com baixo risco genômico, na população europeia. Pudemos observar uma chance ainda maior de descalonar a quimioterapia em 57% das pacientes. A maior prevalência de baixo risco genômico foi significativa, em todas as faixas etárias de pacientes brasileiras, exceto naquelas acima de 70 anos.

Os dados apresentados no San Antonio Breast Cancer Symposium 2021 mostram que a utilização do Mammaprint passa a ser ainda mais efetiva na mulher brasileira e certamente poderá beneficiar uma taxa maior de mulheres, se comparado ao que fora observado previamente no estudo original.

Essa é uma contribuição a mais mostrando a necessidade e a importância de termos plataformas genômicas disponíveis para a população brasileira quer na saúde suplementar, quer no Sistema Único de Saúde.

Referências:

1. Mattar, A; et al. Substantial reduction in adjuvant chemotherapy with the use of the 21-Gene Test to manage early breast cancer in a public hospital in Brazil. JCO Global Oncol 7:1003-1011.

2. Mansani, F; Freitas-Junior, R. Application of the genetic signature Mammaprint in the Brazilian Population – Real world study (AGEMA-BRA). SABCS 2021; P2-07-11.

3. Cardoso, F; et al. 70-Gene signature as an aid to treatment decisions in early-stage breast cancer. N Engl J Med 2016;375:717-29.