Onconews - LESSER: histerectomia radical simples vs modificada no câncer cervical

vandre carneiro bxO cirurgião oncológico Vandré Carneiro (foto), médico do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP) e do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), é primeiro autor de estudo brasileiro que buscou avaliar a segurança e eficácia da histerectomia simples no câncer cervical em estágio inicial. Os resultados foram apresentados no SGO 2021 Annual Meeting on Women’s Cancer pelo cirurgião Glauco Baiocchi, diretor do Departamento de Ginecologia Oncológica do A.C.Camargo Cancer Center.

O LESSER (LESs Surgical radicality for EaRly Stage Cancer Cervical) é um estudo randomizado de Fase II de não-inferioridade, controlado, multicêntrico, de prova de conceito, que avaliou a segurança e eficácia da histerectomia simples em comparação com a histerectomia radical modificada em pacientes com câncer cervical nos estágios IA2-IB1 e tumores ≤ 2 cm.

O endpoint primário foi a taxas de sobrevida livre de doença em 3 anos; os endpoints secundários incluíram sobrevida global em 3 anos, morbidade cirúrgica, indicação de terapia adjuvante e qualidade de vida (EORTC QLQ-C30).

Resultados

Um total de 40 pacientes foram randomizadas 1: 1 entre maio de 2015 e abril de 2018 em 3 centros oncológicos do Nordeste do Brasil: IMIP, HCP e Hospital Santa Casa de Misericórdia de Maceió, representados pelos pesquisadores Thales Batista, Manoel de Andrade e Aldo Barros, respectivamente. Todos os casos tiveram dissecção pélvica sistemática dos linfonodos. No geral, 10% das pacientes foram submetidas a procedimentos minimamente invasivos, 80% dos tumores eram carcinoma de células escamosas e 7,5% tinham metástases em linfonodos, enquanto imprecisões para estimativa clínica do tamanho do tumor, invasão do espaço linfovascular e invasão estromal > 1 cm foram encontradas em 20%, 22,5% e 30% de casos, respectivamente.

As características clínicas e patológicas foram bem equilibradas entre os braços de tratamento, mas a duração da cirurgia e o tempo para a remoção do cateterismo vesical foram maiores após a histerectomia radical (p = 0,003 e p = 0,043, respectivamente). Não houve mortalidade pós-operatória e as taxas de complicação pós-operatória de qualquer grau não foram estatisticamente diferentes entre os braços (15% e 20%; p = 1,00). Também não foi observada nenhuma grande diferença na qualidade de vida ao longo do tempo.

Um quarto das pacientes recebeu terapia adjuvante, sem diferença significativa entre os grupos (30% vs. 20%, p = 0,48). Em 25 meses de acompanhamento, houve um óbito devido à recorrência pélvica no braço de histerectomia simples. “Uma revisão patológica deste caso encontrou êmbolo tumoral no espaço linfovascular do paramétrio esquerdo que não foi detectado no momento da análise anatomopatológica anterior, portanto, a paciente não recebeu tratamento adjuvante, o que poderia ter mudado o péssimo desfecho”, avalia Carneiro.

Outra paciente morreu de metástase pulmonar de um segundo câncer primário de tireoide em 54,4 meses de acompanhamento no braço de histerectomia radical. Uma grande complicação tardia também foi registrada após 3 meses da cirurgia radical em uma paciente com estenose uretral distal, que foi tratada com ressecção segmentar e ureteroneocistostomia psoas-hitch.

Com um acompanhamento mediano de 31 meses, a sobrevida livre de doença em 3 anos foi de 94,1% para o braço da histerectomia simples e 100% para histerectomia radical (p=0.31).

“A histerectomia simples é um substituto promissor para a histerectomia radical modificada no câncer cervical em estágio IA2-IB1 <= 2 cm”, concluíram os autores.

O estudo está registrado em ClinicalTrials.gov, NCT02613286.

Referência: Abstract ID: 10718 - A proof of concept randomized phase 2 non-inferiority trial on simple versus modified radical hysterectomy in IA2-IB1 cervical cancer ≤ 2cm (LESSER) – Glauco Baiocchi et al