Destacada em General Session no ASCO GI 2022, apresentação de Gregory P. Botta, do UCSD Moores Cancer Center, na Califórnia, mostra como a detecção de DNA de tumor circulante (ctDNA) no adenocarcinoma pancreático permite identificar doença residual molecular meses antes dos achados radiológicos e ainda avaliar tanto a resposta molecular quanto os resultados dos pacientes. André Murad (foto), diretor clínico da Personal - Oncologia de Precisão e Personalizada, e oncologista e oncogeneticista da CETTRO Oncologia, comenta os resultados.
“O DNA tumoral circulante (ctDNA) é um fragmento de DNA livre de células (cfDNA) na corrente sanguínea que se origina de tumores malignos ou células tumorais circulantes. Recentemente, o ctDNA surgiu como um biomarcador não invasivo promissor em oncologia clínica. A análise do ctDNA abre novos caminhos para o diagnóstico e terapia individualizada do câncer em vários tipos de tumores”, esclarece Murad. “Evidências sugerem que a doença residual mínima (DRM) está intimamente associada à recorrência da doença, portanto, identificar alterações genéticas e moleculares específicas como novos alvos de detecção de DRM usando ctDNA tem sido um foco de pesquisa. A DRM é considerada um marcador prognóstico promissor para identificar indivíduos com risco aumentado de recorrência e que podem se beneficiar do tratamento”, acrescenta.
O adenocarcinoma pancreático é a terceira principal causa de morte relacionada ao câncer nos EUA, com taxa de recorrência de 85% após cirurgia curativa e sobrevida em 5 anos de apenas 10%. “Biomarcadores séricos como CA 19-9 não oferecem taxas razoáveis de sensibilidade e especificidade (10% dos pacientes não produzem CA 19-9) e são indicadores inadequados de doença residual molecular (DRM).
Nesta análise, os pesquisadores usaram um ensaio de PCR multiplex personalizado (ensaio Signatera mPCR NGS) para a detecção e quantificação de ctDNA em uma coorte prospectiva de pacientes. Resultados em diferentes séries temporais foram coletados para subgrupos de pacientes irressecáveis, com doença borderline e pacientes ressecáveis para monitorar os níveis de ctDNA em resposta ao tratamento (veja a Tabela).
Resultados
Foram incluídos 93 pacientes, com idade média de 67,3 anos e 45% do sexo feminino. 285 pontos de tempo foram analisados para a presença de ctDNA, com cada paciente tendo entre 1 e 7 pontos de tempo (mediana de 3 pontos de tempo por paciente). 46 pacientes tiveram uma ou mais amostras positivas para ctDNA, resultando em uma taxa de positividade de ctDNA a qualquer momento de 49,5%.
Os autores descrevem que a positividade a qualquer momento correlacionou-se com o estágio da doença (p<0,001). Nas amostras positivas para ctDNA, os níveis observados foram 0,04-1227 moléculas tumorais médias por mL de plasma (média 35,1, mediana 1,02 MTM/mL). Durante o período de acompanhamento (mediana de 13,5 meses, intervalo de 1 a 80 meses), 36 pacientes apresentaram recorrência ou progressão da doença. A sobrevida livre de recorrência (RFS) foi fortemente correlacionada com a positividade de ctDNA pós-operatória a qualquer momento: Hazards Ratio 8,0 (IC 95% 3,4-18,7), p = 1,6e-6. Para 49 pacientes com medições de CA 19-9 disponíveis, o CA 19-9 elevado não foi correlacionado com RFS (p=0,35).
“Os resultados desse estudo sugerem que a análise de ctDNA para avaliação de DRM é um marcador prognóstico promissor para o adenocarcinoma pancreático, pois pode definir um subgrupo de pacientes que permanece em alto risco de recorrência, apesar dos tratamentos instituídos. Esta população de alto risco apresenta uma oportunidade única para explorar abordagens terapêuticas adicionais”, observa Murad.
Em 93 pacientes de todos os estádios, a positividade do ctDNA correlacionou-se com os resultados de sobrevida do paciente mais fortemente do que CA19-9. “Esses dados sugerem que os pacientes podem se beneficiar de testes DRM para um planejamento terapêutico mais personalizado, inclusive na definição de tratamentos subsequentes”, conclui Murad.
COHORT CHARACTERISTICS AND CTDNA POSITIVITY RATES
| Number of patients (N=93) | Patient-level anytime | Number of samples (n=285) | Sample-level ctDNA positivity |
Overall Pathological Stage I | 21 (22.6%) | 3/21 (14.3%) | 63 (22.1%) | 5/63 (7.9%) |
Stage II | 32 (34.4%) | 13/32 (40.6%) | 111 (38.9%) | 17/111 (15.3%) |
Stage III | 26 (28.0%) | 20/26 (76.9%) | 73 (25.6%) | 43/73 (58.9%) |
Stage IV | 14 (15.1%) | 10/14 (71.4%) | 38 (13.3%) | 21/38 (55.3%) |
Neoadjuvant Therapy Not Given | 51 (54.8%) | 24/51 (47.1%) | 143 (50.2%) | 39/143 (27.3%) |
Neoadjuvant Therapy Given | 42 (45.2%) | 22/42 (52.4%) | 142 (49.8%) | 47/142 (33.1%) |
Resectable Disease | 71 (76.3%) | 31/71 (43.7%) | 219 (76.8%) | 53/219 (24.2%) |
Unresectable Disease | 12 (12.9%) | 11/12 (91.7%) | 35 (12.3%) | 24/35 (68.6%) |
Borderline Resectable Disease | 10 (10.8%) | 4/10 (40.0%) | 31 (10.9%) | 9/31 (29.0%) |
Referência: Association of Personalized and Tumor-Informed Ctdna with Patient Survival Outcomes in Pancreatic Adenocarcinoma
First Author: Gregory P. Botta, PhD, MD
Meeting: 2022 ASCO Gastrointestinal Cancers Symposium
Session Type: General Session
Session Title: Emerging Roles of ctDNA on the Horizon of Gastrointestinal Cancers
Track: Pancreatic Cancer
Subtrack: Translational Research
Abstract #: 517
DOI: 10.1200/JCO.2022.40.4_suppl.517