Estudo de Fase 3 (TOPAZ-1) avaliou a eficácia e segurança de durvalumabe mais gencitabina e cisplatina (GemCis) como tratamento de primeira linha para pacientes com câncer avançado do trato biliar (BTC; Oh D-Y et al. J ClinOncol 2022;40 [supl 4]. Abs 378). Durvalumabe mais GemCis melhorou significativamente a sobrevida global versus placebo mais GemCis e representa nova opção potencial de tratamento de primeira linha. Agora, análise apresentada no ESMO GI 2022 mostra que o benefício se manteve, independentemente da localização do tumor primário. O oncologista Duilio Rocha Filho (foto), chefe do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital Universitário Walter Cantídio (UFC-CE), discute os resultados.
No câncer do trato biliar, a localização do tumor primário (colangiocarcinoma intra-hepático ou extra-hepático [IHCC/EHCC] ou câncer de vesícula biliar [GBC]) pode afetar os fatores de risco, prognóstico e resposta ao tratamento.
O objetivo desta análise de subgrupo foi avaliar os resultados de eficácia, sobrevida global (SG), sobrevida livre de progressão (SLP), taxa de resposta objetiva (ORR) e duração da resposta (DoR) por RECIST v1.1, de acordo com a localização do tumor primário em pacientes que receberam durvalumabe versus placebo.
Pacientes com câncer do trato biliar foram randomizados 1:1 para receber durvalumabe (1500 mg) ou placebo no dia 1 Q3W, mais gencitabina (1000mg/m2) e cisplatina (25 mg/m2) no dia 1 e 8 Q3W, por até 8 ciclos, seguidos por durvalumabe ou monoterapia com placebo, até a progressão da doença, toxicidade inaceitável ou descontinuação. A randomização foi estratificada pelo estado da doença (inicialmente irressecável vs recorrente) e localização do tumor primário (colangiocarcinoma intra-hepático (IHCC) vs extrahepático (EHCC) vs câncer de vesícula biliar (GBC). As razões de risco (HRs) e intervalos de confiança de 95% (ICs) foram calculados para SG e SLP usando modelo de riscos proporcionais de Cox e odds ratios (ORs); ICs de 95% para ORR foram calculadas usando o teste Cochran-Mantel Haenszel.
Resultados
Os autores descrevem que o número de pacientes com IHCC, EHCC e GBC foi bem balanceado entre os braços de tratamento; mais pacientes tinham IHCC do que EHCC ou GBC (durvalumabe: n=190, n=66, n=85; placebo: n=193, n=65, n=86, respectivamente).
A análise apresentada no ESMO GI 2022 mostra que a razão de risco (HRs) para SG favoreceu durvalumabe: HR foi 0,76 (IC 95%, 0,58-0,98) para IHCC, 0,76 (IC 95%, 0,49-1,19) para EHCC e 0,94 (IC 95%, 0,65-1,37) para GBC.
Para auxiliar na compreensão da maior HR no GBC foi realizada análise regional: a HR para SG no GBC na Ásia foi de 0,82 (IC 95%, 0,48-1,40) e na Europa mais América do Norte (países não asiáticos menos América do Sul) foi de 0,78 (95 % CI, 0,44-1,37). A HR para SLP foi 0,79 (95% CI, 0,64-0,99) para IHCC, 0,52 (95% CI, 0,35-0,78) para EHCC e 0,90 (95% CI, 0,65-1,24) para GBC.
A ORR favoreceu durvalumabe no IHCC (24,7% vs 15,5%; OR, 1,79; IC 95%, 1,07-2,97), EHCC (28,8% vs 15,6%; OR, 2,18; IC 95%, 0,92-5,16) e GBC (29,4% vs 27,9%; OR, 1,08; IC 95%, 0,55-2,09). O percentual de respondedores com duração de resposta de pelo menos 9 e 12 meses foi maior com durvalumabe versus placebo para todas as localizações tumorais (9 meses: IHCC 28,3% vs 24,0%, EHCC 43,3% vs 23,3%, GBC 33,2% vs27,5%; 12- mês: IHCC 18,9% vs 12,0%, EHCC 43,3% vs 23,3%, GBC 27,6% vs 16,5%).
Em síntese, embora a magnitude da eficácia tenha variado discretamente entre as localizações do tumor primário, o benefício do durvalumabe foi observado de forma consistente. “Esses achados suportam durvalumabe mais GemCis como opção de tratamento para pacientes com câncer do trato biliar, independentemente da localização do tumor primário”, afirmam concluem os autores.
Duilio Rocha Filho (foto), membro do Conselho Científico do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG), observa que o carcinoma de vias biliares é uma doença heterogênea, e seus diferentes sítios primários – colangiocarcinoma intra-hepático, colangiocarcinoma extra-hepático e carcinoma de vesícula – têm características clínicas e biológicas distintas. “Esta atualização do estudo TOPAZ-1 reafirma o benefício em sobrevida global da adição do durvalumabe à quimioterapia padrão. De acordo com os autores, a análise por subgrupos mostrou que o impacto do durvalumabe é independente do sítio primário. Deve-se ressaltar, contudo, que os pacientes com carcinoma de vesícula pareceram ter um benefício menor da adição da imunoterapia. Neste subgrupo, o HR para sobrevida global foi de 0,94 e não houve diferença expressiva em taxa de resposta”, esclarece.
O especialista acrescenta que assim como na população global do estudo, também se verificou uma separação tardia entre as curvas de sobrevida nos pacientes com tumores de vesícula, o que sugere que alguns pacientes com esse sítio primário efetivamente se beneficiam do anti-PD-L1. “Análises adicionais de biomarcadores do estudo TOPAZ-1 que estão em curso podem trazer novas informações sobre como identificar esses doentes. De forma interessante, o braço experimental teve toxicidade manejável, com taxa de eventos adversos graus 3 e 4 similares entre os grupos. Isto gera a perspectiva de que a combinação de imunoterapia com agentes-alvo pode ser explorada em tumores de vias biliares, uma vez que até 40% dos pacientes com a doença têm alterações moleculares acionáveis”, conclui.
O estudo TOPAZ-1 está registrado na ClinicalTrials: NCT03875235
Referência: O1 - Outcomes by primary tumour location in patients with advanced biliary tract cancer treated with durvalumab or placebo plus gemcitabine and cisplatin in the phase 3 TOPAZ-1 study - A He et al.