O mastologista Silvio Bromberg (foto), coautor do estudo FIRST, apresentou na sessão de pôster do San Antonio Breast Cancer Symposium (SABCS 2022) os resultados iniciais de trabalho brasileiro multicêntrico, não randomizado, de braço único, que busca avaliar a eficácia da crioablação no tratamento local do câncer de mama inicial.
“A ablação tumoral guiada por imagem é uma terapia minimamente invasiva não cirúrgica disponível para o tratamento local de carcinomas como alternativa ao tratamento cirúrgico. No entanto, estudos avaliando essa terapia no câncer de mama inicial apresentam taxas de sucesso variáveis, levantando a questão se a omissão da cirurgia é permissível. Estudos em andamento, como o Frost e Ice3, podem mudar o contexto da crioablação no tratamento do câncer de mama inicial”, observam os autores.
No estudo FIRST, o objetivo principal é avaliar a eficácia da crioablação no tratamento local do câncer de mama inicial. Os objetivos secundários são analisar o valor preditivo negativo da ressonância magnética (MRI) na previsão da resposta à terapia e avaliar o tamanho da bola de gelo em relação ao maior tamanho do tumor.
Os critérios de inclusão são pacientes com carcinoma de mama invasivo unifocal, tumores menores ou iguais a 2,5 cm, lesão visualizada na ultrassonografia e cirurgia indicada como primeira opção de tratamento. Os critérios de exclusão incluem carcinoma ductal in situ, tumores multifocais ou multicêntricos, envolvimento clínico axilar, distância lesão-pele inferior a 5 mm, presença de metástase à distância e tratamento neoadjuvante. O recrutamento começou em 2020 e deve terminar em 2024.
Todas as pacientes serão submetidos a tratamento de crioablação local, seguido de tratamento cirúrgico convencional após um intervalo de 14 a 28 dias. Exames de imagem (mamografia, ultrassonografia e ressonância magnética das mamas) serão realizados antes e após a crioablação.
A eficácia da crioablação será avaliada pela sua taxa de sucesso, definida como a ausência de células neoplásicas invasivas ou malignas in situ na peça cirúrgica. Se a taxa de sucesso esperada da crioablação corroborar a taxa de 92% apresentada no estudo ACOSOG Z1072 para pacientes sem doença multifocal, o estudo precisará de pelo menos 32 pacientes para verificar se a técnica é satisfatória (taxa de sucesso > 70%) considerando poder de 95% e um alfa de 5%.
Resultados
Até o momento, foram incluídas oito pacientes, todas com carcinoma invasivo de mama de tipo não especial, HR-positivo e HER2-negativo, grau histológico 1 ou 2. A idade média das pacientes é de 57 anos, e a média de tamanho do tumor foi de 1,1 cm (0,5–1,8 cm). Todos os pacientes foram submetidos a dois ciclos de congelamento de 6 minutos e descongelamento de 4 minutos com apenas uma criossonda acoplada ao sistema de gás Argônio e Hélio.
A taxa de ablação completa foi de 87,5% (7 de 8 casos) e a taxa de ablação considerando apenas a ausência de lesão invasiva foi de 100%. Apenas uma paciente apresentou carcinoma ductal focal in situ em uma margem. O tamanho médio da bola de gelo na ultrassonografia foi de 3,8 x o tamanho da lesão mamária. O valor preditivo negativo da ressonância magnética das mamas foi de 100%.
Em síntese, a crioablação é uma terapia promissora e pode ser uma alternativa ao tratamento cirúrgico em pacientes com câncer de mama inicial. “Este estudo confirma que esta técnica ablativa é viável. No entanto, os resultados de outros estudos em andamento precisam confirmar o papel da crioablação no tratamento do câncer de mama”, concluíram os autores.
O estudo tem a mastologista Vanessa Sanvido como autora e Afonso Nazário como autor sênior. O estudo conta ainda com a participação do radio-intervencionista Antonio Rahal.
O estudo está registrado em ClinicalTrials.gov, NCT05398497.
Referência: P4-07-48 Preliminary results of the FIRST (FreezIng bReaST cancer in Brazil) trial: a before-after study - Presenting Author(s) and Co-Author(s): Vanessa M. Sanvido, Dra Vanessa Sanvido, PhD - Universidade Federal de São Paulo/ Hospital do Coração (Hcor)
Silvio E. Bromberg, Dr Silvio Bromberg, PhD - Hospital Israelita Albert Einstein de São Paulo; Antonio R. Junior, Antonio Rahal, MD - Hospital Israelita Albert Einstein de São Paulo; Bruna Mayumi T. Tachibana, Bruna Tachibana, MD - Hospital Israelita Albert Einstein de São Paulo; Afonso Nazário, Dr Afonso Nazário, PhD - Universidade Federal de São Paulo
