Mulheres negras não hispânicas com câncer de mama receptor hormonal positivo (HR+)/HER2-negativo e linfonodo positivo tiveram resultados piores em comparação com brancas não hispânicas, asiáticas e hispânicas, apesar de escores de recorrência de 21 genes semelhantes. Os resultados são de análise realizada em participantes do estudo RxPONDER e foram apresentados no San Antonio Breast Cancer Symposium (SABCS 2022) pela oncologista Yara Abdou (foto), professora assistente da Universidade da Carolina do Norte e primeira autora do trabalho.
“As disparidades raciais nos resultados do câncer de mama continuam a ser um grande desafio para a saúde, com mulheres negras com maior probabilidade de morrer da doença em comparação com mulheres não negras”, afirmou Abdou, médica no Lineberger Comprehensive Cancer Center. “Atualmente, existem evidências de diferenças na biologia tumoral que contribuem para essa disparidade. Compreender essas diferenças nos ajudará a descobrir novas oportunidades de intervenção para reduzir essas disparidades”, acrescentou.
Abdou e colegas analisaram os resultados clínicos com relação à raça e etnia no ensaio clínico RxPONDER, que avaliou o valor do escore de recorrência (RS) de 21 genes em pacientes com câncer de mama linfonodo positivo, HR+/HER2-negativo, e o benefício da quimioterapia adjuvante nessas pacientes. O escore de recorrência de 21 genes é um teste genômico que mede o nível de expressão de um grupo de 21 genes no tecido tumoral para prever o risco de recorrência do câncer de mama e a resposta à terapia. Os resultados são medidos em uma escala de 0 a 100. “O teste é uma ferramenta importante para orientar as decisões de tratamento entre mulheres com câncer de mama em estágio inicial”, explicou Abdou.
O estudo incluiu 4.048 mulheres com câncer de mama HR-positivo/HER2-negativo que tinham de um a três linfonodos axilares positivos e RS de 25 ou menos, o que indica risco intermediário ou baixo. A raça não declarada excluiu 18,7% dos pacientes, sendo a maioria devido a regras de privacidade. A população do estudo incluiu pacientes brancos não-hispânicos (2.833pacientes, 70%), negros não-hispânicos (248 pacientes, 6,1%), hispânicos (610 pacientes, 15,1%) e asiáticos (324, pacientes, 8%). Houve muito poucos eventos para incluir mulheres nativas americanas/das ilhas do Pacífico (NAPI) nas análises de sobrevida (33 pacientes, 0,8%).
O desfecho primário foi a sobrevida livre de doença invasiva (IDFS). A sobrevida livre de recidiva à distância (DRFS) também foi avaliada, e foram realizadas análises ajustadas por braço de tratamento, RS e grau do tumor.
Resultados
As mulheres asiáticas e hispânicas eram mais jovens em comparação com as mulheres brancas não-hispânicas (7,1 e 2,4 anos, respectivamente), mas as negras não-hispânicas não diferiam em idade. A distribuição do escore de recorrência não diferiu entre todos os subgrupos raciais (p=0,49). Também não houve diferenças significativas no tamanho do tumor (p=0,10) ou número de linfonodos positivos (p=0,26) em todos os grupos raciais.
No entanto, pacientes negras não-hispânicas e pacientes hispânicas tiveram uma frequência maior de tumores de alto grau (17,7% e 14,1%, respectivamente) em comparação com pacientes brancas não-hispânicas e asiáticas (10,2% e 6,5%, respectivamente).
A taxa de sobrevida livre de doença invasiva em cinco anos (IDFS), indicando a porcentagem de pacientes vivas e livres de câncer de mama ou qualquer outro tipo de câncer invasivo, também foi menor para negras não-hispânicas (87,2%) em comparação com asiáticas (93,9%), brancas não-hispânicas (91,5%) e hispânicas (91,4%).
Um modelo multivariável de Cox ajustado para RS e braço de tratamento mostrou pior IDFS para negras não-hispânicas em comparação com brancas não-hispânicas (HR = 1,38; 95% CI 1,00-1,90; p = 0,048), embora as pacientes asiáticas tivessem melhor IDFS do que brancas não-hispânicas (HR = 0,65; 95% CI 0,44-0,97; p=0,034).
Após o ajuste para idade, status menopausal, grau do tumor, braço de tratamento e RS, as pacientes negras não-hispânicas tiveram um risco 37% maior de câncer invasivo em comparação com brancas não-hispânicas. Além disso, pacientes negras não-hispânicas tiveram menor sobrevida livre de recidiva à distância do que as pacientes brancas não-hispânicas. Após 12 meses de acompanhamento, 96% das pacientes negras não-hispânicas ainda estavam em terapia endócrina em comparação com 94,8% das pacientes brancas não-hispânicas.
“Esses dados sugerem que as diferenças nos resultados de longo prazo provavelmente não são atribuídas à falta de adesão ao tratamento entre as mulheres negras não-hispânicas no primeiro ano; no entanto, um acompanhamento mais longo é necessário para confirmar esse achado”, disse Abdou.
A oncologista observou que os resultados indicam disparidades raciais no câncer de mama, particularmente no câncer de mama HR-positivo, e que essas diferenças foram observadas apesar da análise de uma população de estudo cuidadosamente escolhida e tratada de maneira uniforme, sugerindo que outros fatores biológicos além das disparidades no atendimento podem estar contribuindo para resultados inferiores em minorias raciais. “Nossas descobertas também destacam a necessidade de maior representação de minorias raciais e étnicas em ensaios clínicos”, afirmou.
“Os resultados mostram que mulheres negras com câncer de mama HR+/HER2-, 1-3 linfonodos envolvidos e RS ≤ 25 têm resultados piores em comparação com mulheres brancas, apesar de resultados semelhantes de escore de recorrência. Não houve interação significativa entre negras não-hispânicas vs. brancas não-hispânicas e braço de tratamento, embora esta análise tenha sido limitada devido ao tamanho da amostra”, concluíram os autores.
As limitações do estudo incluem o pequeno tamanho das coortes de minorias raciais/étnicas incluídas no estudo, o que limitou o poder estatístico de certas análises, como a interação entre raça/etnia e os resultados do braço de tratamento. Além disso, é necessário um acompanhamento mais longo da adesão à terapia endócrina para avaliar o impacto da adesão à terapia em diferentes resultados por raça.
O estudo foi financiado por grants do National Institutes of Health e do National Cancer Institute; Susan G. Komen for the Cure Research Program; Hope Foundation for Cancer Research; Breast Cancer Research Foundation; e Genomic Health (Exact Sciences Corporation).
Referência: Abstract GS1-01 - Race and Clinical Outcomes in the RxPONDER Trial (SWOG S1007) - Presenting Author: Yara Abdou, M.D. - University of North Carolina