A pesquisadora brasileira Mariana Brait (foto), professora assistente na Johns Hopkins University e Gerente de Pesquisa Sênior no A.C. Camargo Cancer Center, é autora sênior de estudo selecionado para a AACR 2023 que busca compreender como alterações epigenéticas se comportam em amostras de saliva de populações brasileiras livres de câncer. O estudo é fruto de uma colaboração entre a Universidade Johns Hopkins e o Hospital Moinhos de Vento.
“Identificar fatores ambientais e sua relação com alterações epigenéticas é essencial para entender o câncer. Atualmente, esforços de desenvolvimento de triagem e detecção precoce do câncer estão em andamento e os testes baseados em epigenética são uma das principais estratégias”, afirmam os autores.
Para o estudo, os pesquisadores utilizaram 601 amostras de saliva de dois estudos epidemiológicos brasileiros: POP-Brasil e SMESH. Os DNAs extraídos foram convertidos em bissulfito de sódio e analisados por PCR quantitativa específica para a detecção de metilação (QMSP). Foram selecionados cinco genes previamente relatados como propensos à metilação do DNA em câncer (ITGA4, EDRNB, PAX5, p16, CCNA1).
Todos os participantes foram entrevistados e forneceram informações sociodemográficas e de comportamento sexual, bem como amostras biológicas genitais e orais.
Resultados
Surpreendentemente, a metilação em 3 genes associados ao câncer mostrou frequência considerável neste grupo de indivíduos livres de câncer. Entre as 601 amostras, a metilação do DNA foi observada no gene EDNRB em 75 (12,5%), PAX5 em 55 (9,2%) e ITGA4 em 20 (3,3%). 12 amostras apresentaram metilação concomitante em 2 desses 3 genes. A metilação de p16 e CCNA1 estava presente apenas em 1 amostra cada.
Análises preliminares sugerem que a metilação de genes específicos é observada com a presença de tipos de HPV de baixo (LR) e alto risco (HR). A metilação no gene EDNRB parece estar ocorrendo concomitantemente com a presença de HPV de alto risco tipo 16 e 59 em amostras orais e tipo 31, 39, 45, 51, 58, 59 em amostras genitais e baixo risco tipos 6, 11, 40 ,42, 62, 70 e 84. A metilação em EDNRB e em ITGA4 também mostraram tendência de ocorrência com diagnóstico de infecções sexualmente transmissíveis. Metilação em ITGA4 e HPV alto risco tipos 16 e 59 foram detectados em amostras orais, e tipos 52, 56, 58 e 68 em amostras genitais, bem como HPV baixo risco tipos 40, 42 e 62. A metilação no gene PAX5 era mais frequente na presença de HPV de alto risco tipo 69 em amostras genitais e 33, 45, 51, 58 e 69 foram detectados em amostras orais, bem como HPV baixo risco tipos 6, 61, 62. A metilação em PAX5 também mostrou tendência de ocorrência com diagnóstico de sífilis e HIV. Mais análises estão em andamento.
Segundo os pesquisadores, a presença de alterações relacionadas ao câncer pode indicar fases pré-malignas, exposição e consequências no estilo de vida, simultaneamente ou separadamente. “Em nossa análise piloto, diferentes tipos de HPV parecem correlacionar-se com alterações epigenéticas, o que pode chamar a atenção para tipos de HPV menos estudados e seu papel na carcinogênese”, ressaltam.
“Análises adicionais dos dados atuais e estudos prospectivos mais amplos avaliando o uso da metilação do DNA salivar em grupos de indivíduos sem câncer e com câncer são necessários para explorar as descobertas atuais e dissecar o potencial da saliva como um meio de rastrear alterações relacionadas ao câncer”, concluem os autores.
Referência: 6528 / 26 - HPV status and epigenetic profiling of saliva from a cancer-free population
Sessão: PO.PR02.03 - Early Detection and Molecular Markers of Prevention
Data: April 19, 2023, 9:00 AM - 12:30 PM
Autores: Ana Paula Muterle Varela1, Dieila Giomo De Lima2, Laura Palmieri2, Juliana Comerlato1, Fernando Hayashi Sant’Anna1, Isabel C Bandeira1, Marina Bessel1, Pedro Isaacsson Velho1,2, Eliana M. Wendland1, Mariana Brait2 – 1 Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre, Brazil, 2 Johns Hopkins University School of Medicine, Baltimore, MD