Análise final pré-planejada do estudo PROpel mostrou resultados de olaparibe + abiraterona na primeira linha de tratamento de pacientes com câncer de próstata metastático resistente à castração (mCRPC), demonstrando mais de 7 meses de benefício de sobrevida global em comparação com abiraterona isolada na população por intenção de tratar. O oncologista João Guedes (foto), do Hospital de Base de São José do Rio Preto, é coautor do trabalho.
PROpel (NCT03732820) é um estudo randomizado, duplo-cego, de Fase 3, que avaliou o tratamento de primeira linha para pacientes com câncer de próstata metastático resistente à castração (mCRPC) elegíveis para abiraterona. Os pacientes foram avaliados prospectivamente quanto ao status de mutação de reparo por recombinação homóloga (HRRm) usando testes de tecido tumoral (FoundationOne®CDx) e/ou DNA tumoral circulante (ctDNA; FoundationOne®Liquid CDx) e randomizados 1:1 para olaparibe (300 mg duas vezes ao dia [bid ]) ou placebo e abiraterona (1000 mg uma vez ao dia) mais prednisona/prednisolona (5 mg bid). O tratamento continuou até a progressão radiográfica da doença, toxicidade inaceitável ou retirada do consentimento.
O estudo atingiu seu objetivo primário mostrando benefício significativo de sobrevida livre de progressão radiográfica (rPFS) avaliado pelo investigador para pacientes com mCRPC tratados com abiraterona + olaparibe versus abiraterona + placebo no cenário de 1L (hazard ratio [HR] 0,66, 95% CI 0,54–0,81, P < 0,001, cutoff de dados: 30/07/2021). A análise de sensibilidade por revisão central independente cega foi consistente. Uma tendência para o benefício de sobrevida global com abi + ola foi observada no momento da análise primária de rPFS (28,6% maturidade, HR 0,86, 95% CI 0,66–1,12), bem como em uma análise intermediária subsequente (40,1% maturidade, HR 0,83, 95% CI 0,66–1,03).
A sobrevida global foi um endpoint secundário chave (limite 2-sided para significância 0,0377, na análise final). Os resultados agregados dos testes de tecido tumoral e ctDNA foram usados para atribuir os pacientes aos subgrupos HRRm/BRCAm.
Resultados
As características dos pacientes (n = 796), incluindo docetaxel prévio, local da metástase, score dos sintomas e status HRRm foram equilibradas. Houve uma tendência consistente para o benefício de sobrevida global na população por intenção de tratar (ITT) com abiraterona + olaparibe em comparação com abiraterona + placebo (maturidade 47,9%, HR 0,81, 95% CI 0,67–1,00, P = 0,0544), com mediana de sobrevida global de 42,1 meses (m) vs 34,7 m, respectivamente. As medianas de sobrevida global e HRs para os subgrupos HRRm, não-HRRm, BRCAm e não-BRCAm favoreceram a combinação de abiraterona e olaparibe. No braço abi + ola, o evento adverso de grau ≥3 mais comum foi anemia (16,1%).
Subgroup* | Median OS, m Abi + ola | Median OS, m Abi + pbo | HR (95% CI) |
HRRm (n = 226) | NR | 28.5 | 0.66 (0.45–0.95) |
Non-HRRm (n = 552) | 42.1 | 38.9 | 0.89 (0.70–1.14) |
BRCAm (n = 85) | NR | 23.0 | 0.29 (0.14–0.56) |
Non-BRCAm (n = 693) | 39.6 | 38.0 | 0.91 (0.73–1.13) |
*18 patients with unknown HRRm status were excluded from subgroup analysis. NR, not reached
“Na análise final pré-especificada no PROpel, abiraterona + olaparibe prolongou a sobrevida global em mais de 7 meses em comparação com o padrão de tratamento abiraterona (abi + pbo) na população ITT. A mediana de sobrevida global superior a 42 meses é a mediana mais longa relatada até o momento em um estudo de fase 3 em primeira linha do câncer de próstata metastático resistente à castração”, afirmaram os autores. “Consistente com os resultados de rPFS, uma tendência para o benefício de sobrevida global foi observada nos subgrupos HRRm, não-HRRm, BRCAm e não-BRCAm com maior benefício no subgrupo BRCAm. Não foram identificados novos problemas de segurança a longo prazo. Esses resultados suportam o uso de abiraterona + olaparibe no tratamento de primeira linha do câncer de próstata metastático resistente à castração”, destacaram.
Guedes ressalta que os dados apresentados na ASCO-GU 2023 reforçam o benefício clínico da combinação versus a monoterapia, apesar de não alcançarem matematicamente o nível pré-especificado para a significância estatística. “Reafirmando essa interpretação, temos a aprovação para uso pelas principais agências regulatórias, incluindo a ANVISA. Contudo, é necessário destacar que o benefício apresenta uma gradação de magnitude entre portadores de BRCAm, HRRm e não-BRCAm/HRRm. Assim, torna-se necessário compreender melhor os mecanismos moleculares intrínsecos associados ao sinergismo da combinação e refinar as estratégias de seleção de pacientes para que possamos desenvolver combinações futuras mais personalizadas e com maior probabilidade de obter sucesso”, observa.
“Além disso, presenciamos um avanço acelerado no landscape do tratamento do câncer de próstata metastático resistente à castração e se tornará necessário compreender como a combinação olaparibe + abiraterona se posicionará nos futuros algoritmos terapêuticos. Por fim, gostaria de destacar a importância da contribuição dos centros de pesquisa brasileiros para o desenvolvimento deste importante trabalho”, conclui.
Referência: Final overall survival (OS) in PROpel: abiraterone (abi) and olaparib (ola) versus abiraterone and placebo (pbo) as first-line (1L) therapy for metastatic castration-resistant prostate cancer (mCRPC).
First Author: Noel Clarke, FRCS
Meeting: 2023 ASCO GU Cancers Symposium
Session Type: General Session
Session Title: Advanced Prostate Cancer: New Targets, New Drugs, New Victories?
Track: Prostate Cancer- Advanced
Subtrack: Therapeutics
Abstract #: LBA16