Onconews - Radiação de toda a pelve no câncer de bexiga músculo-invasivo

ronald kollO uro-oncologista Ronald Kool (foto) é primeiro autor de estudo que avaliou o impacto do volume de radiação nos principais desfechos oncológicos em pacientes com câncer de bexiga localizado músculo-invasivo (MIBC). Os resultados foram selecionados como Rapid Abstract no ASCO GU 2023.

O estudo liderado por pesquisadores da McGill University incluiu pacientes com câncer de bexiga músculo-invasivo (cT2-4aN0-2M0) submetidos a radioterapia curativa em 10 centros acadêmicos em todo o Canadá. Foram excluídos pacientes com invasão da parede pélvica ou abdominal (cT4b) bem como pacientes com linfonodos aumentados além da bifurcação ilíaca comum em exames de imagem antes da radioterapia (cN3).

Os pacientes foram divididos em dois grupos com base no volume de radioterapia: pélvica (WP-RT), que incluiu a bexiga e os linfonodos pélvicos regionais no campo de irradiação vs. bexiga apenas (BO-RT). A análise estatística utilizou a probabilidade inversa da ponderação do tratamento (IPTW) e as diferenças padronizadas absolutas (ASDs) para equilibrar as variáveis entre os grupos de tratamento. Modelos de regressão foram usados para avaliar o impacto do volume de radioterapia nas taxas de resposta completa (CR) ao tratamento, sobrevida câncer-específica (CSS) e sobrevida global (SG).

Resultados

Foram analisados 599 pacientes, dos quais 369 (61,6%) foram submetidos a WP-RT. Estes pacientes eram mais jovens (média de idade 73,2 vs. 77,4; ASD 0,41) e mais propensos a ter performance status ECOG de 0-1 (82,1% vs. 73,5%; ASD 0,21), doença linfonodal positiva (12,5% vs. 2,2%; ASD 0,40) e invasão linfovascular (26,3% vs. 16,1%; ASD 0,25), quando comparados aos pacientes que receberam BO-RT.

Além disso, a proporção de pacientes tratados com quimioterapia neoadjuvante (20,9% vs. 10,4%; ASD 0,29) e quimioterapia concomitante à radioterapia (76,7% vs. 56,5%; ASD 0,44) foi maior no grupo WP-RT em comparação à BO-RT.

Na coorte balanceada após IPTW, variáveis tradicionais como idade, sexo, PS ECOG, estadiamento clínico, presença de carcinoma in situ, invasão linfovascular, variantes histológicas uroteliais, hidronefrose; tumores passíveis de ressecção completa antes da RT e a proporção de pacientes tratados com NAC e quimioterapia concomitante foram comparáveis entre os grupos (todos os ASDs <0,10).

Na análise multivariada, WP-RT não afetou as taxas de resposta completa pós-radioterapia (OR 1,14; p=0,526), mas foi associada tanto com sobrevida câncer-específica (HR 0,66; p=0,016) quanto com sobrevida global (HR 0,68; p=0,002), com significância estatística independentemente dos fatores prognósticos tradicionais incluídos no modelo final.

A irradiação de linfonodos regionais pélvicos segue sendo debatida nos casos de pacientes com câncer de bexiga músculo-invasivo tratados com radioterapia curativa, visando a preservação do órgão. Um estudo randomizado de não-inferioridade publicado em 2012 sugeriu que a radioterapia apenas na bexiga (BO-RT) seria menos tóxica e associada a resultados oncológicos não inferiores (taxas de preservação da bexiga, sobrevida livre de doença e sobrevida global) – quando comparada à irradiação de toda a pelve (WP-RT).

“Nosso estudo demonstrou um benefício de sobrevida significativo com o uso de radioterapia de toda a pelve (WP-RT) em comparação com radioterapia apenas na bexiga (BO-RT) em pacientes com câncer de bexiga músculo-invasivo tratados com intenção curativa. Ensaios clínicos randomizados adicionais são necessários para confirmar nossos achados”, concluíram os autores.

Referência: Benefit of whole-pelvis radiation for patients with muscle-invasive bladder cancer: An inverse probability treatment-weighted analysis
First Author: Ronald Kool
Meeting: 2023 ASCO GU Cancers Symposium
Session Type: Rapid Abstract Session
Session Title: Rapid Abstract Session: Urothelial Carcinoma
Track: Urothelial Carcinoma
Sub Track: Therapeutics
Citation: J Clin Oncol 41, 2023 (suppl 6; abstr 449)
DOI 10.1200/JCO.2023.41.6_suppl.449
Abstract #: 449