Os testes moleculares podem complementar com informações relevantes as estratégias de rastreamento do câncer de pulmão, como aponta estudo destacado em sessão mini-oral no WCLC 2023.
O rastreamento do câncer de pulmão demonstrou reduções de mortalidade em indivíduos de alto risco com base na idade e no histórico de tabagismo. Em 2021, a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA (USPSTF) revisou suas diretrizes de 2013 para expandir a elegibilidade para o rastreamento do câncer de pulmão, reduzindo a idade mínima de 55 para 50 anos e o tabagismo-ano de 30 para 20. No entanto, a composição molecular dos tumores identificados através do rastreamento do câncer de pulmão permanece desconhecida.
Nesta análise, pesquisadores da Universidade da California e da Universidade de Stanford investigaram a proporção de pacientes elegíveis para rastreamento do câncer de pulmão cujos tumores abrigavam alterações moleculares, para avaliar o potencial de opções terapêuticas precisas nesta população.
Foram identificados pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) avaliados em uma única instituição entre 2008-2022. A coorte incluiu todos os indivíduos que já fumaram e que foram submetidos ao sequenciamento de próxima geração com o Painel de Mutação Acionável de Stanford. Alterações moleculares drivers foram consideradas nos genes EGFR, ALK, ROS1, RET, BRAF, ERBB2 e KRAS, além de mutações no exon 14 do MET (METex14). Análises secundárias avaliaram as mutações mais comuns em genes supressores de tumor (TP53, STK11 e KEAP1). Os pacientes foram revisados retrospectivamente quanto à elegibilidade para rastreamento do câncer de pulmão no momento do diagnóstico por meio dos critérios da USPSTF de 2021 e 2013.
Os resultados apresentados no WCLC 2023 mostram que 580 pacientes cumpriram os critérios de seleção, com mediana de 71,0 anos no momento do diagnóstico, sendo 43,4% mulheres e 19,3% fumantes atuais. A mediana de anos-maço de tabagismo foi de 25,0 (IQR 13,9-44,3).
Os pesquisadores descrevem que 36,7% (N=213/580) dos pacientes atenderam aos critérios de triagem da USPSTF de 2021, significativamente mais do que 26,4% (N=153/580) dos pacientes que atenderam aos critérios da USPSTF de 2013 (p<0,001).
A análise revela que pacientes que atenderam aos critérios da USPSTF de 2021 tiveram significativamente menos alterações moleculares determinantes em seus tumores do que aqueles que não atenderam aos critérios (52,6% versus 68,7%; P<0,001). Foram encontradas significativamente menos mutações de EGFR nos tumores de pacientes que atenderam aos critérios da USPSTF de 2021 versus aqueles que não atenderam aos critérios (6,1% versus 20,2%; P<0,001). Todas as outras alterações demonstraram frequências semelhantes entre os grupos. Os pacientes que atenderam aos critérios da USPSTF de 2021 tiveram a seguinte distribuição de alterações drivers: 6,1% EGFR, 0,5% ALK, 0% ROS1, 0,5% RET, 7,0% BRAF, 0,5% ERBB2, 38,0% KRAS e 1,4% METex14. Entre pacientes com mutações no KRAS, 48,1% apresentavam mutações KRAS G12C. Frequências semelhantes foram observadas entre pacientes com doença em estágio inicial.
Os pacientes que atenderam aos critérios da USPSTF de 2021 apresentaram tumores com uma frequência significativamente maior de mutações em genes supressores de tumor em comparação com pacientes que não atenderam aos critérios (68,1% versus 51,5%; P<0,001). Quando comparados com critérios da USPSTF de 2013, os pacientes que atenderam aos critérios da USPSTF de 2021 apresentavam tumores com frequência semelhante de alterações moleculares drivers (52,6% versus 49,7%; P = 0,658) e mutações em genes supressores de tumor (68,1% versus 68,6%; P=1,0).
“Aproximadamente metade dos pacientes com CPCNP que atenderam aos critérios de triagem de câncer de pulmão da USPSTF de 2021 tinham tumores que abrigavam alterações moleculares determinantes em nossa instituição, sendo a maioria potencialmente acionáveis. A expansão dos critérios de rastreamento do câncer de pulmão aumentou numericamente a frequência de pacientes elegíveis com alterações moleculares determinantes. À medida que as terapias direcionadas são incorporadas às estratégias de tratamento para o CPCNP em estágio inicial, os testes moleculares para pacientes diagnosticados por meio de triagem podem permitir outras opções terapêuticas”, concluem os autores.
Referência: MA02.06Molecular Distribution of Patients with Non-Small Cell Lung Cancer Eligible for Lung Cancer Screening - J.V. Aredo1, J.W. Neal2, C.A. Kunder2, K.J. Ramchandran2, M.S. Das2, N.J. Myall2, S.S. Han3, H.A. Wakelee2 - 1University of California, San Francisco, San Francisco/CA/USA ,2Stanford Cancer Institute, Stanford/CA/USA ,3Stanford University School of Medicine, Stanford/CA/USA