Onconews - Cirurgia robótica da mama

toesca 2 bxO mastologista Silvio Bromberg, médico do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein e da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, conversou com Antonio Toesca (foto), cirurgião - coordenador de cirurgia robótica da mama no Instituto Europeu de Oncologia, durante o curso de cirurgia mamária e oncoplástica no IEO. Confira.

 

Como você vê o futuro do cirurgião da mama sabendo que atualmente existe uma influência de uma mentalidade de descalonamento do tratamento clínico e cirúrgico do câncer de mama?
Às vezes, os cirurgiões gerais e ginecologistas se tornam altamente especializados, e essa subespecialidade de cirurgia mamária é muito fascinante, porque você pode ao mesmo tempo ser cirurgião oncológico e cirurgião plástico e fazer uma reconstrução durante a operação. Ou seja, isso permite que os cirurgiões da mama façam mais do que mastectomias. Portanto, nesse cenário, é importante também estar aberto a novas técnicas, como a mastectomia por endoscopia, que é meu trabalho em particular, uma mastectomia robótica. Para oferecer ao paciente a possibilidade de realizar operações minimamente invasivas ao invés de procedimentos muito extensos. Tem a ver com essa nova tendência.

Como você decidiu se especializar em cirurgia robótica? Como foi sua primeira experiência?
Quinze anos atrás, quando estava envolvido com cirurgias gerais laparoscópicas, decidi fazer meu trabalho em cirurgia de mama. Quando cheguei ao Instituto Europeu de Oncologia, tive a oportunidade de acompanhar algumas cirurgias de próstata e ginecológicas por robótica e comecei a pensar nas vantagens do robô também para a cirurgia da mama.

Quais pacientes podem ser submetidos a uma cirurgia robótica?
Esta é uma questão muito importante, porque essas operações não são para todos os pacientes. Primeiro, é preciso identificar o paciente que tem expectativa de receber uma operação cosmética e deve ser submetido a uma mastectomia. Pacientes jovens, aquelas com mutação BRCA, por exemplo, que querem fazer mastectomia profilática bilateral, e pacientes com tumores pequenos sem o envolvimento da pele e do complexo areolar e com baixa probabilidade de apresentar gânglios positivos são ótimas candidatas a esta operação. A robótica como cirúrgica minimamente invasiva, tem como diferencial uma cicatriz pequena por onde é possível remover uma glândula pequena ou média. Mulheres com mamas grandes não são boas candidatas para esse tipo de operação.

E a curva de aprendizado para esse tipo de cirurgia?
Bem, eu não sou a pessoa certa para responder a essa pergunta porque, sendo o primeiro a fazê-la, não conhecia todas as etapas desta operação. Portanto, tive que experimentar todas as etapas da operação. A primeira operação durou oito horas. A curva de aprendizado é baixa, porque o fato do cirurgião de mama já conhecer os passos da cirurgia mamária, é um facilitador do aprendizado. Atualmente sei que a cirurgia está sendo realizada em países como Coréia e China, por exemplo. Para eles a curva de aprendizado foi muito mais baixa, porque eles já conheciam etapas diferentes da cirurgia robótica. É claro que existe uma curva de aprendizado, precisa de algum tempo para aperfeiçoamento, como acontece em todas as cirurgias. Acredito que após 15 operações é possível ser um ótimo cirurgião de mama por via robótica.

Na sua opinião, qualquer cirurgião da mama deve aprender essa técnica? Ou essa não é uma cirurgia para todos?
Primeiro, é preciso ser um cirurgião especializado em cirurgia da mama para se aproximar da cirurgia robótica de mama. Muitos cirurgiões não sabem robótica em geral, dizem que é para os piores cirurgiões, mas eu penso exatamente o contrário. Você deve conhecer o plano de dissecção correto e todos os truques sobre mastectomia para ser bom em cirurgia robótica. Então, é necessário experiência em cirurgia aberta, esse é o meu conselho para os cirurgiões que pretendem se especializar na técnica robótica. Na minha opinião pessoal, acredito que todo cirurgião deveria saber, porque a técnica deve se popularizar no futuro.

Após obter minha certificação em cirurgia robótica, tentamos captar alguma paciente que desejaria se submeter a esse tipo de procedimento e quando informamos ser o primeiro caso a ser realizado e que as vantagens não parecem ser superiores à técnica convencional, a paciente acaba declinando esse tipo de abordagem. Como você conseguiu convencer suas pacientes para esse tipo de cirurgia?
Na Itália nós não precisamos dessa certificação, o que facilita muito. Quando converso com as pacientes e proponho essa técnica, explico com toda sinceridade as vantagens e desvantagens e elas entendem que é uma técnica nova, mas que precisa ser iniciada e praticada para poder ser melhorada e acabar beneficiando outras mulheres. Quando entendem isso e também entendem que a cicatriz é pequena e é um procedimento minimamente invasivo, elas acabam aceitando.

Gostaria de dizer algo especial para os cirurgiões de mama brasileiros?
Minha sugestão é que vocês devem estar abertos e se manter em contato com novas técnicas, e nesse caso aprender com cirurgiões que realizam mastectomias robóticas. Aqui estamos disponíveis e sempre tentamos pensar no futuro.