Estudo mostra importância de avaliar a capacidade do paciente em lidar com a doença desde o início do tratamento.
Cerca de 1 em cada 5 pacientes com câncer desenvolve transtorno de estresse pós-traumático (do inglês, PTSD) dentro de seis meses após o diagnóstico - e uma porcentagem ainda mantém sintomas relacionados ao PTSD quatro anos depois.
Os resultados são do estudo publicado em novembro na revista Cancer, periódico da American Cancer Society. Cientistas analisaram 245 pacientes ao longo de quatro anos e identificaram que quase 22% desenvolveram PTSD no período de seis meses após o diagnóstico. Quatro anos depois, mais de 6% (1/3 dos pacientes diagnosticados, 34,1%) apresentava PTSD persistente, com sintomas como sofrimento psicológico e problemas cognitivos. "Vários estudos têm mostrado a permanência de distúrbios psicológicos que podem ter consequências a longo prazo na saúde mental do paciente", afirma a psico-oncologista Juciléia Rezende Souza, presidente da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia (SBPO) e responsável pelo Serviço de Psico-Oncologia do Hospital Universitário de Brasília (HUB - UNB).
Segundo Juciléia, o estudo mostra a importância de avaliar o paciente e sua capacidade de lidar com a doença desde o início evitar sequelas emocionais sérias. “Há anos a comunidade de psico-oncologia tem chamado a atenção para a necessidade de identificar precocemente esse paciente, para que seja encaminhado ao serviço de psico-oncologia desde o início do tratamento, e não apenas quando já apresenta algum sintoma. A partir do momento em que já existe um transtorno de stress pós-traumático instalado, é muito mais difícil manejar”.
No entanto, a especialista ressalta que estudos mostram que há um despreparo do profissional para esse encaminhamento, da mesma forma que mostra que o paciente tem dificuldade de discutir questões emocionais com os médicos durante o atendimento, como se fosse um fator de menor relevância. “Existe a necessidade de adotar ferramentas de triagem na rotina clínica da oncologia, como o termômetro de distress (TD), uma escala utilizada para detectar problemas de distress em pacientes com câncer.
“Além dessa ferramenta, que identifica o paciente que está em elevado nível de sofrimento, temos tentado avaliar características que são preditoras de risco, ou seja, identificar o paciente que apresenta vulnerabilidade e tem maior risco de desenvolver distúrbios de saúde mental. No Brasil há um instrumento desenvolvido com tal objetivo, o IRPO - Indicador de Risco Psicológico em Oncologia, o qual já foi validado e segue sendo avaliado em sua eficácia" diz.
Referência: Caryn Mei Hsien Chan et al. Course and predictors of post-traumatic stress disorder in a cohort of psychologically distressed patients with cancer: A 4-year follow-up study – First published: 20 November 2017 - Cancer 2017. American Cancer Society.
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