Técnica experimental associa termoablação à quimioterapia com cisplatina e busca aliviar sintomas de pacientes com câncer de cabeça e pescoço avançado sem alternativas de tratamento curativo.
Estudo realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) avalia até que ponto a termoablação e o uso de cisplatina IV podem melhorar a qualidade de vida de pacientes com câncer de cabeça e pescoço fora de possibilidades curativas.
Realizado em colaboração com a Universidade da Califórnia (UCLA), e com o apoio da FAPESP e do National Cancer Institute, o estudo tem como braço experimental a técnica conhecida como laser-indução de terapia térmica (LITT), já utilizada em centros como a UCLA em tumores de cérebro, mama, trato gastrointestinal e próstata, aliada à aplicação local de quimioterapia. A estratégia representa um avanço em comparação ao tratamento administrado nos Estados Unidos, feito apenas com o laser.
“Trata-se de um tratamento paliativo experimental para controle local da doença em pacientes que não são mais candidatos à cirurgia. Às vezes um tratamento menos agressivo oferece mais qualidade de vida. Com essa técnica conseguimos reduzir alguns sintomas específicos, como sangramento, compressão do nervo ósseo, infecção local e dor”, explica o cirurgião Marcos Bandiera Paiva, que lidera o estudo.
“A vantagem da combinação de cisplatina com LITT é que o calor aumenta a capacidade do quimioterápico de penetrar nas membranas celulares e potencializa sua ação local”, acrescenta.
O estudo
Como os efeitos da cisplatina sobre uma temperatura muito alta no tumor eram desconhecidos, o objetivo desse primeiro projeto piloto foi verificar a segurança do procedimento com precisão e acionar o laser para realizar a termoablação local do tumor”, explica Paiva.
O trabalho demonstrou que a dose empregada não causou eventos adversos em nenhum paciente. “A toxicidade foi zero, não tivemos nenhuma intercorrência”. O segundo aspecto avaliado foi a qualidade de vida. “Essa avaliação foi mais complicada, porque precisamos de mais tempo de acompanhamento para ter uma análise fidedigna”, diz.
A mediana de sobrevida, terceiro aspecto observado no projeto piloto, também favoreceu o uso da técnica. Os pacientes apresentaram uma mediana de sobrevida de aproximadamente 6,5 meses, superior à relatada por um trabalho do Hospital de Heliópolis, que havia registrado ganho de 4,5 meses com estratégias paliativas.
Próximos passos
Os pesquisadores programam agora um estudo de fase I que deve aumentar a dose de cisplatina para 50mg/cm3 de tumor. "Esperamos melhorar nossos resultados com essa concentração”, afirma Paiva.
O especialista adianta que existem projetos de associação da técnica com tratamentos sistêmicos como o cetuximabe, um anticorpo monoclonal empregado no tratamento do câncer de cabeça e pescoço. “Estamos discutindo com alguns oncologistas que têm um protocolo para pacientes fora de opções terapêuticas e eles são favoráveis à realização de um protocolo com essa combinação. É provável que tenhamos um resultado ainda melhor com a adição de cetuximabe, mas só vamos conseguir responder essa pergunta fazendo outro ensaio clínico”. A expectativa é de que a técnica possa ser replicada em outros centros. "Queremos aprimorar o tratamento e beneficiar mais pacientes, inclusive com outros tumores. O objetivo é desenvolver um procedimento ambulatorial minimamente invasivo que possa oferecer melhor qualidade de vida para os pacientes do SUS”, conclui.