Como tem acontecido com quase todas as áreas da oncologia, em 2015 a imunoterapia trouxe dados preliminares, porém bastante animadores, para os tumores gastrointestinais. Segundo Anelisa Coutinho, oncologista na clínica AMO e presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG), a opção terapêutica deve ser muito investigada e testada nos próximos anos, com o desafio de avaliar a possibilidade de combinação com terapias já vigentes e uso em linhas mais precoces de tratamento.
O anticorpo monoclonal anti PD-1 pembrolizumab foi testado em 25 pacientes com tumores colorretais metastáticos politratados com deficiência de mismatch repair (dMMR), e em 21 pacientes com dMMR e tumores não colorretais. O estudo demonstrou uma taxa de resposta objetiva de 62% e 60%, e taxa de controle de doença de 92% e 70%, respectivamente. A sobrevida em um ano foi de 80%, enquanto a mediana de sobrevida global ainda não foi alcançada em ambos os grupos. Um terceiro grupo de pacientes com tumores colorretais e proficiência de mismatch repair (pMMR) não apresentou nenhuma resposta. Apesar de ser um estudo preliminar, os dados são promissores e mostram que a imunoterapia pode exercer um papel nesses tumores.
O medicamento também foi avaliado no estudo de fase I KEYNOTE-012, em 39 pacientes com câncer gástrico avançado previamente tratados, com taxa de resposta de 22%. O KEYNOTE-012 demonstrou correlação entre o nível de expressão de PD-L1 e as taxas de resposta alcançadas. Outro estudo que merece destaque é o HERACLES, que avaliou 23 pacientes com câncer colorretal metastático HER2 positivo 2+ ou 3+ que já tinham sido submetidos a tratamentos prévios. Os pacientes receberam a combinação de trastuzumabe com lapatinibe e apresentaram 34% de taxa de resposta e 78% de taxa de controle de doença, números bastante interessantes nesse cenário. Apesar de ser um estudo preliminar, pequeno, o HERACLES abre uma perspectiva de tratamento para esse subgrupo específico de pacientes.
O anti PD-1 nivolumab também foi testado em um estudo fase 1/2 que avaliou 47 pacientes com carcinoma hepatocelular avançado, entre eles portadores de vírus B, C e pacientes não infectados. Incluindo pacientes de todos os grupos, houve 24% de resposta objetiva e 48% de doença estável.
Embora nenhum desses estudos seja conclusivo, são peças iniciais de um quebra cabeça bastante instigante e com resultados promissores. A imunoterapia em tumores gastrointestinais certamente será uma opção terapêutica muito investigada e testada nos próximos anos, com o desafio de avaliar a possibilidade de combinação com terapias já vigentes e uso em linhas mais precoces de tratamento.