O Sistema Único de Saúde (SUS) instituído em 1988 por preceito constitucional é uma das grandes conquistas que há quase três décadas tenta consolidar o tripé da universalidade, integralidade e equidade da assistência. No mundo real, o SUS vive o paradoxo de um modelo de gestão que transita entre o público e o privado, sente a agonia do subfinanciamento crônico e a pressão por uma fragmentação ainda maior. Há caminhos para revalorizar o SUS? E na assistência oncológica, como melhorar o fluxo do paciente na fila por diagnóstico e tratamento?
A proposta do Ministro da Saúde, Ricardo Barros, de criar um plano de saúde popular para aliviar os gastos do governo com o financiamento do SUS renovou o debate sobre a relação público-privado na saúde. “Não consigo ver como uma solução adequada nem do ponto de vista do que foi estabelecido na Constituição como direito cidadão à saúde, nem do ponto de vista técnico. Isso não traz nenhuma contribuição para organizar o sistema de saúde e pelo visto a alta complexidade continuará nas costas do SUS”, avalia Walter Cintra Ferreira Junior, coordenador do curso de especialização em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo.
Não é de hoje que a assistência a patologias de alta complexidade consome a maior fatia do orçamento da saúde. No ano passado, a atenção básica representou 13,7% contra 42,1% em atendimentos de média e alta complexidade. Como atenção primária ou básica estão, por exemplo, as despesas em postos de saúde, com políticas de imunização e no Programa de Saúde da Família. Na outra ponta, procedimentos de média e alta complexidade incluem cirurgias, quimioterapias e internações.
Somente com o tratamento do câncer, as despesas do SUS crescem de forma exponencial, com um aumento de 357% de 2000 a 2014.
Ampliar investimentos, melhorar a gestão e despertar um olhar mais atento às políticas de prevenção são alguns dos caminhos para buscar saídas para o Sistema Único de Saúde e melhorar a qualidade da assistência. Nesta edição, Onconews mostra os desafios de organizar o trânsito do paciente na fila do SUS e encurtar distâncias do diagnóstico ao tratamento do câncer.
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