Onconews - Transição epidemiológica e assistência em rede

ON13_PG09_EPIDEMIOLOGIA_CAPA_NET_OK_PORTAL.jpgCom o avanço da carga do câncer no Brasil, modelo de assistência em rede enfrenta déficit na infra-estrutura de serviços. Desencontro entre oferta e demanda na prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer também tem raízes em um modelo de assistência concebido para um panorama bem diferente.

Em 1930, as doenças infecciosas respondiam por 46% das mortes nas capitais brasileiras, taxa que decresceu para um valor abaixo de 5% no ano 2000. No caminho inverso, doenças crônico-degenerativas, entre elas o câncer, passaram a ocupar espaço crescente entre os principais agravos à saúde, desafiando o Sistema Único de Saúde a reconfigurar seu modelo de assistência.
 
A França levou 115 anos para duplicar a proporção de idosos na população (de 7,0 para 14,0%). No Brasil, a mesma mudança levou apenas 40 anos para se completar (de 5,1 para 10,8%)1.
 
Diante de um cenário de profundas transformações, o Ministério da Saúde implantou em 2010 as Redes de Atenção à Saúde na forma de redes temáticas organizadas em linhas de cuidado, entre elas a prevenção e controle do câncer.
 
Em São Paulo, foram mais de R$190 milhões na criação da Rede Hebe Camargo de Combate ao Câncer, implantada em 2014. Uma Central de Regulação Oncológica é responsável por monitorar e gerenciar os 76 serviços que compõem a Rede - 54 Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON),16 Centros de Alta Complexidade em Oncologia (CACON), 1 serviço de radioterapia e 5 centros para o tratamento cirúrgico.
 
É um avanço, sem dúvida. Foram mais de 10,4 milhões de atendimentos, mas ainda é pouco. O déficit de CACONs e UNACONs no Estado chega a 20,5%, em cálculo que considera a recomendação do próprio Ministério da Saúde2: cada estabelecimento habilitado como Unidade ou Centro de Alta Complexidade em Oncologia deve seguir a razão de 1 para cada 500.000 habitantes. Estamos longe disso – e a transição epidemiológica avança.
 
Dados do Ministério da Saúde mostram que em cinco anos o número de pacientes que recorre ao SUS para tratamento do câncer aumentou 34%, passando de 292 mil em 2010, para 393 mil em 2015.
 
Referências:
 
1. Saúde nas Américas 2012: panorama da situação de saúde dos países das Américas. Organização Pan-Americana da Saúde, 2012.
 
2. Portaria nº 140 de 2014 do Ministério da Saúde, artigo 28

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