A principal área de atuação da radioterapia é no tratamento oncológico e em torno de 60% dos novos casos de câncer vão necessitar de radioterapia em pelo menos uma fase do tratamento, de forma isolada ou associada à cirurgia e/ou quimioterapia. O grande problema hoje é o déficit de assistência radioterápica no Brasil.
Cerca de 90 mil pacientes com câncer estão sem acesso ao tratamento de radioterapia. É um cenário caótico – e não é de hoje. Em 2010, o Tribunal de Contas da União (TCU) deu a dimensão do problema: o tempo médio de espera entre a data do diagnóstico e o início da radioterapia era em média de 113,4 dias, o que certamente compromete as chances de cura de muitos pacientes. De lá para cá, a situação não mudou – e alguns especialistas arriscam dizer que o problema piorou. O vazio de assistência e a oferta desigual permanecem como desafio.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza um acelerador linear para cada 600 mil habitantes e hoje no Brasil temos atualmente ao redor de 230 máquinas instaladas, com uma população estimada em 200 milhões de habitantes. O déficit é evidente, sem falar nas desigualdades regionais. Estados como Roraima e Amapá sequer possuem serviço de Radioterapia.
Diante do vazio de assistência, há críticas de que muitos pacientes são tratados em aparelhos antigos e de pouca precisão. Fica a impressão de um sucateamento. Faltam máquinas, falta infra-estrutura, faltam profissionais especializados. Para piorar, a incorporação de novas tecnologias em radioterapia pelo SUS está parada há muito tempo. Como saldo, técnicas mais modernas de radioterapia, que permitem um melhor controle de doença em várias situações e evidente diminuição de toxicidade, são utilizadas apenas por algumas instituições públicas de grande porte, conhecidas como “Ilhas de excelência”, que absorvem o alto custo dessa tecnologia, ou por serviços privados.
A radioterapia é indicada de forma estratégica no tratamento da maior parte dos casos de câncer de próstata e pulmão nos homens e no de mama e colo uterino na mulher, os tumores mais prevalentes na população brasileira. Portanto, toda e qualquer política de atenção oncológica deve conter ações para assegurar acesso rápido e equitativo dos pacientes à radioterapia, o que ainda não é uma realidade.
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