Mesmo com as diretrizes de melhores práticas da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), que desencorajam cuidados de final de vida de baixo valor, muitos pacientes com câncer metastático continuam a receber intervenções médicas agressivas ao longo das semanas finais de vida. É o que mostra estudo retrospectivo de base populacional publicado por Deeb et al no JAMA Network Open, indicando que pacientes com câncer metastático de minorias raciais e étnicas e aqueles sem seguro privado têm maior probabilidade de serem admitidos no departamento de emergência, receber ventilação mecânica invasiva e ter estadias hospitalares mais longas na fase terminal.
Estudos anteriores que caracterizaram o cuidado de fim de vida entre pacientes com câncer avançado incluíram morte em unidade de cuidado intensivo como sinal de cuidado agressivo, listando ainda estratégias como a ventilação mecânica invasiva e terapias intensivas que prolongam a vida igualmente como sinais de cuidado agressivo.
Neste estudo, os pesquisadores usaram dados do Projeto de Custo e Utilização de Saúde compreendendo 21.335 pacientes da internação com idade ≥ 18 anos com diagnóstico principal de câncer metastático que morreram durante a hospitalização entre janeiro de 2010 e dezembro de 2017.
Os resultados da análise mostram que entre os 21.335 pacientes, a idade mediana foi de 65 anos (intervalo interquartil = 56-75 anos); 54,0% mulheres; 0,5% americanos, 3,3% asiáticos /ilhéus do Pacífico, 14,1% negros, 7,5% hispânicos e 65,9% brancos; 58,2% possuíam Medicare ou Medicaid e 33,2% possuíam seguro privado.
No geral, 63,2% dos pacientes foram admitidos no pronto-socorro; 4,6% receberam terapia sistêmica e 19,2% receberam ventilação mecânica invasiva durante a internação.
Comparado com pacientes brancos, maior probabilidade de admissão no departamento de emergência foi encontrada para pacientes da Ásia / Pacífico (odds ratio [OR] = 1,43, P <0,001), pacientes negros (OR = 1,39, P <0,001) e pacientes hispânicos (OR = 1,45, P <0,001).
Maior probabilidade de receber ventilação mecânica invasiva foi observada entre pacientes negros (OR = 1,59, P <0,001), grupo que teve menor probabilidade de receber terapia sistêmica (OR = 0,78, P = 0,02) e maior probabilidade de internação hospitalar com duração mais longa que a média da coorte (OR = 1,21, P <0,0001), seguido de pacientes da Ásia /Pacífico (OR = 1,21, P = 0,021).
Quando avaliado o custo do cuidado, a maior probabilidade de incorrer em cobranças totais mais altas foi observada em pacientes da Ásia / Pacífico (OR = 1,35, P = 0,001), pacientes negros (OR = 1,23, P <0,001) e hispânicos (OR = 1,50, P <0,001).
Em comparação com os pacientes com Medicare e Medicaid, os pacientes com seguro privado tiveram menor probabilidade de serem admitidos no departamento de emergência (OR = 0,47, P <0,001), assim como tiveram menor probabilidade de receber ventilação mecânica invasiva (OR = 0,75, P <0,001), ter um período de internação hospitalar maior que a mediana (OR = 0,72, P <0,0001) ou de incorrer em cobranças totais mais altas (OR = 0,64, P <0,001), destacam os autores.
“Neste estudo, os pacientes com câncer metastático de grupos de minorias raciais e étnicas e aqueles com cobertura do Medicare ou Medicaid tiveram maior probabilidade de receber intervenções agressivas de baixo valor no final da vida”, conclui a análise, indicando que mais estudos são necessários para avaliar os fatores subjacentes associados às disparidades nos cuidados de final da vida.
Referência: Deeb S, Chino FL, Diamond LC, et al. Disparities in Care Management During Terminal Hospitalization Among Adults With Metastatic Cancer From 2010 to 2017. JAMA Netw Open. 2021;4(9):e2125328. doi:10.1001/jamanetworkopen.2021.25328