Artigo publicado online no Pancreatology traz a opinião de especialistas sobre uma questão controversa: afinal, a ressecção cirúrgica é justificada para pacientes com adenocarcinoma ductal pancreático com metástase de órgãos abdominais distantes? O cirurgião oncológico Felipe José Fernandes Coimbra (foto), Diretor do centro de referência em tumores do aparelho digestivo alto do AC Camargo Cancer Center, comenta o position paper.
O adenocarcinoma ductal pancreático (PDAC) é uma neoplasia maligna refratária e muitos pacientes apresentam metástases à distância ao diagnóstico, como metástase hepática e disseminação peritoneal. O tratamento padrão para PDAC irressecável com metástase em órgão distante (UR-M) é a quimioterapia, mas o prognóstico permanece ruim.
Uma reunião internacional de consenso sobre o tratamento cirúrgico do adenocarcinoma ductal pancreático (PDAC) para pacientes com metástases à distância (UR-M) foi realizada durante o Congresso que acompanhou a 26ª Reunião da Associação Internacional de Pancreatologia (IAP) e a 53ª Reunião Anual da Japan Pancreas Society (JPS), em Kyoto. Apesar de limitadas, as indicações e resultados do tratamento cirúrgico para PDAC UR-M sugerem que esses pacientes tratados cirurgicamente tiveram resposta significativa à quimioterapia, o que pode contribuir para um prognóstico de sobrevida prolongada em pacientes selecionados.
Os autores descrevem que diante dos recentes avanços na quimioterapia, o prognóstico melhorou gradualmente e alguns pacientes com MDAC UR-M experimentaram acentuada regressão e até o desaparecimento de suas lesões metastáticas. Com esta tendência, o position paper descreve que tentativas têm sido feitas para ressecar um número reduzido de metástases (as chamadas oligometástases) em combinação com o tumor primário ou, ainda, ressecar o tumor primário e metastático em pacientes com uma resposta favorável ao tratamento sistêmico após certo período de tempo (a chamada cirurgia de conversão).
Afinal, a ressecção cirúrgica é mesmo justificada para adenocarcinoma ductal pancreático com metástase de órgãos abdominais distantes?
“Nos pacientes com metástases à distância do câncer de pâncreas há um consenso de que o tratamento prioritário deve ser sistêmico, não só pelo comportamento biológico, mas também pelo risco de rápida progressão tumoral caso procedimentos cirúrgicos upfront sejam realizados. Em geral, nesses casos, a cirurgia costuma ser realizada com o objetivo de aliviar sintomas ou complicações, melhorar a qualidade de vida ou reduzir a carga tumoral quando outras abordagens terapêuticas são inadequadas ou ineficazes”, afirma Coimbra.
O especialista esclarece que os tratamentos clássicos para o adenocarcinoma ductal pancreático metastático para órgãos abdominais incluem a quimioterapia, a terapia-alvo e, em alguns casos, a radioterapia. “Essas abordagens são focadas em retardar o crescimento do tumor, aliviar sintomas e prolongar a sobrevida dos pacientes. A abordagem de cuidados paliativos deve ser empregada desde o início, independente do prognóstico esperado”, diz.
O cirurgião observa que é essencial lembrar que as recomendações e as decisões de tratamento para cada paciente são individuais e baseadas em múltiplos fatores, como a extensão da doença, a saúde geral do paciente e suas preferências. “Portanto, é crucial que os pacientes e suas famílias discutam todas as opções de tratamento disponíveis com a equipe médica especializada em oncologia pancreática para tomar decisões informadas sobre o plano de cuidados mais adequado”, ressalta.
“Com a evolução das pesquisas científicas e das diretrizes de tratamento ao longo do tempo, é sempre importante buscar novas alternativas terapêuticas na tentativa de oferecer tratamentos com potencial de eficácia elevado, desde que haja o controle adequado e persistente da doença sistêmica através da terapia medicamentosa prioritária, permitindo assim, em casos de exceção, que pacientes com comportamento biológico diferenciado e doença passível de ressecção segura não percam a chance de controle local em condições de baixo volume tumoral e doença limitada, após terapia sistêmica”, conclui Coimbra.
Referência: Daisuke Hashimoto, Sohei Satoi, Tsutomu Fujii, Masayuki Sho, Jin He, Thilo Hackert, Marco Del Chiaro, Jin-Young Jang, Aiste Gulla, Yoo-Seok Yoon, Yan-Shen Shan, Wenhui Lou, Roberto Valente, Junji Furuse, Atsushi Oba, Minako Nagai, Taichi Terai, Haruyoshi Tanaka, Ayano Sakai, Tomohisa Yamamoto, So Yamaki, Ippei Matsumoto, Yoshiaki Murakami, Kyoichi Takaori, Yoshifumi Takeyama, Is surgical resection justified for pancreatic ductal adenocarcinoma with distant abdominal organ metastasis? A position paper by experts in pancreatic surgery at the Joint Meeting of the International Association of Pancreatology (IAP) & the Japan Pancreas Society (JPS) 2022 in Kyoto, Pancreatology, 2023, ISSN 1424-3903, https://doi.org/10.1016/j.pan.2023.07.005.