Onconews - AACR 2018: crizotinibe no tumor miofibroblástico inflamatório ALK-positivo

Ana Gelatti NET OK 2Entre os pacientes com tumor miofibroblástico inflamatório ALK-positivo irressecável, avançado ou metastático, 50% apresentaram redução parcial ou total do tumor após o tratamento com o inibidor de ALK crizotinibe (Xalkori). Os resultados do estudo de fase II EORTC 90101, apresentados dia 15 de abril no AACR Annual Meeting 2018 e publicados simultaneamente no The Lancet Respiratory Medicine, sugerem que crizotinibe deve ser considerado como padrão de cuidados de tratamento sistêmico para a doença. Ana Gelatti (foto), oncologista do Hospital do Câncer Mãe de Deus, em Porto Alegre, e membro do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT), comenta o estudo.

“Dada a raridade da patologia e os resultados frustrantes com os tratamentos convencionais, os dados nos encorajam a considerar crizotinibe como tratamento padrão nessa população, mesmo com os possíveis vieses de um estudo de fase II”, afirma Gelatti.

Sobre o estudo

Pacientes com diagnóstico local de tumor miofibroblástico inflamatório avançado/metastático foram selecionados para o tratamento com crizotinibe após a confirmação central do diagnóstico por patologia. Os pacientes elegíveis com ALK positivo (+) e negativo (-) receberam crizotinibe oral 250 mg duas vezes ao dia até a progressão da doença por RECIST 1.1. ALK+ foi definido como pelo menos 15% de células tumorais com rearranjo em FISH e/ou positividade imuno-histoquímica.

Se pelo menos 2 dos primeiros 12 pacientes ALK+ elegíveis e avaliáveis obtivessem uma resposta parcial ou completa (PR, CR) confirmada por RECIST 1.1, um máximo de 35 pacientes seriam inscritos. Se pelo menos 6 pacientes tivessem um PR/CR confirmado, o estudo seria considerado bem-sucedido.

Resultados

Entre outubro de 2012 e abril de 2017, 13 locais em 8 países europeus recrutaram 35 pacientes com diagnóstico local de tumor miofibroblástico inflamatório. Desses, 20 pacientes tiveram o diagnóstico confirmado centralmente e foram tratados com crizotinibe.

Entre 12 pacientes ALK+ elegíveis e avaliáveis, seis obtiveram uma resposta parcial ou completa confirmadas, um paciente teve resposta parcial não confirmada e cinco pacientes apresentaram doença estável (SD) como melhor resposta (ORR 50%, IC 95%: 21,1 - 78,9%). Outros endpoints de eficácia em pacientes ALK+ foram taxa de controle da doença (DCR = CR/PR/SD como melhor resposta) 100% (73,5 - 100%), taxa livre de progressão (PFR) em 1 ano (y) 73,3% (37,9-90,6%), taxa de sobrevida global em um ano (OSR) 81,8% (44,7-95,1%).

Entre 7 pacientes ALK-negativo elegíveis e avaliáveis, um obteve resposta parcial, cinco tiveram doença estável e uma doença progressiva (ORR 14,3%, 0,0-57,9%). Dados adicionais em casos de ALK: taxa de controle da doença 85,7% (59,8-100%), taxa livre de progressão em um ano 53,6% (13,2-82,5%), e taxa de sobrevida global em um ano 83,3% (27,3-97,5%).

Os eventos adversos relacionados ao tratamento mais comuns foram náuseas (11/20 [55%]), fadiga (9/20 [45%]), visão embaçada (9/20 [45%]), vômitos (7/20 [35%]), diarreia (7/20 [35%]).

“O estudo avaliou em braço único o uso de crizotinibe em 20 pacientes que foram avaliados centralmente para confirmação histológica e de positividade de ALK. 50% (6/12) dos pacientes ALK + apresentaram resposta parcial ou completa com uso de crizotinibe. A mediana de resposta no momento do cut off foi de 9 meses”, disse Gelatti.

De acordo com Schöffski, as limitações do trabalho incluem o fato de ser um estudo não comparativo, de braço único, com um número relativamente pequeno de pacientes. No entanto, dada a prevalência da doença, um estudo comparativo, randomizado e mais definitivo não seria possível.

O estudo tem o patrocínio da Pfizer.

Referência:  Prospective precision medicine trial of crizotinib (C) in patients (pts) with advanced, inoperable inflammatory myofibroblastic tumor (IMFT) with and without ALK alterations: EORTC phase II study 90101 "CREATE" - P. Schoffski et al