Artigo publicado na edição de fevereiro do Lancet Oncology 1 traz os resultados do estudo que avaliou os efeitos tardios e resultados cosméticos da irradiação acelerada parcial da mama com braquiterapia intersticial (ABPI) versus irradiação total após cirurgia conservadora em mulheres com carcinoma invasivo e in situ de baixo risco.
O estudo randomizado, de Fase 3, teve a participação de 16 centros em 7 países europeus. Foram inscritas mulheres com 40 anos ou mais de idade, com câncer de mama estágio 0-IIA submetidas à cirurgia conservadora de mama com margens de ressecção microscópicas de pelo menos 2 mm. As pacientes foram randomizadas 1: 1para receber irradiação total da mama com 50 Gy com um boost de 10 Gy no leito tumoral, ou braquiterapia intersticial (APBI).
Resultados
Entre 20 de abril de 2004 e 30 de julho de 2009, 1328 mulheres foram inscritas para receber irradiação total da mama (n = 673) ou APBI com braquiterapia intersticial (n = 655) e um total de 1184 pacientes foram elegíveis e constituíram a população tratada (551 no grupo de irradiação total da mama e 633 no grupo de APBI).
Em um seguimento médio de 6,6 anos, nenhum paciente apresentou toxicidade de grau 4 e 3 de 484 pacientes no grupo APBI (<1%) e sete de 393 no grupo tratado com irradiação total da mama (2%) apresentaram toxicidade cutânea tardia de grau 3 (p = 0,16). Nenhum paciente do grupo APBI e dois (<1%) no grupo de irradiação total desenvolveram toxicidade de tecido subcutâneo tardio grau 3 (p = 0,10). A incidência cumulativa de qualquer efeito secundário tardio de grau 2 ou pior aos 5 anos foi de 27% (95% IC 23 0-30,9) no grupo de irradiação total da mama versus 23,3% (19,9 -26 · 8) no grupo APBI (p = 0,12). A incidência cumulativa de toxicidade cutânea tardia de grau 2-3 em 5 anos foi de 10,7% no grupo tratado com irradiação total versus 6,9%, no grupo tratado com ABPI (p = 0 020). O risco cumulativo de efeitos colaterais tardios do tecido subcutâneo de grau 2-3 em 5 anos foi de 9,7% no grupo de irradiação total versus 12,0% no grupo APBI (p = 0,28). A incidência cumulativa de dor grau 2-3 na mama foi de 11,9% após irradiação total versus 8,4% após APBI.
O estudo também avaliou a percepção das pacientes em relação aos resultados cosméticos. Após 5 anos de seguimento, 413 (91%) dos 454 pacientes apresentaram resultados cosméticos excelentes a bons no grupo de irradiação total versus 498 (92%) de 541 pacientes no grupo APBI (P = 0,62); quando avaliados pelos médicos, 408 (90%) dos 454 pacientes e 503 (93%) dos 542 pacientes, respectivamente, apresentaram resultados cosméticos excelentes (p = 0,12).
Nenhum óbito relacionado ao tratamento ocorreu, mas seis (15%) de 41 pacientes (três em cada grupo) morreram de câncer de mama e 35 óbitos (21 no grupo de irradiação de mama total e 14 no grupo de APBI) não foram relacionados.
Para os autores, os perfis de toxicidade e os resultados cosméticos aos 5 anos foram semelhantes nos doentes tratados com cirurgia de conservação da mama seguida por APBI com braquiterapia intersticial ou irradiação convencional, com significativamente menos efeitos colaterais cutâneos de grau 2-3 após APBI. “Esses achados fornecem mais evidências clínicas para o uso rotineiro de braquiterapia intersticial no tratamento de pacientes com câncer de mama de baixo risco que optam pela conservação da mama”, concluíram.
O estudo é registrado em ClinicalTrials.gov, número NCT00402519.
Referência: Late side-effects and cosmetic results of accelerated partial breast irradiation with interstitial brachytherapy versus whole-breast irradiation after breast-conserving surgery for low-risk invasive and in-situ carcinoma of the female breast: 5-year results of a randomised, controlled, phase 3 trial - Polgár, C et al
Lancet Oncology - Volume 18, No. 2, p259–268, February 2017
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