Onconews - ACCENT/IDEA: análise agrupada avalia QT adjuvante com oxaliplatina no idoso com câncer de cólon

Análise agrupada de 12 ensaios ACCENT/IDEA avaliou a quimioterapia adjuvante à base de oxaliplatina em pacientes idosos (≥70 anos) com câncer de cólon estágio III que receberam 3 ou 6 meses de tratamento. Os resultados mostram que o regime foi bem tolerado e o tempo para recorrência foi comparável ao de pacientes mais jovens. “Até onde sabemos, esta análise agrupada de 12 ensaios adjuvantes incluindo mais de 17.000 pacientes é o maior estudo avaliando a tolerância e eficácia de quimioterapia adjuvante contendo oxaliplatina em pacientes com câncer de cólon estágio III, de acordo com a idade”, destacam os autores. O oncologista Alexandre Paladino (foto), do INCA, comenta o trabalho.

Vários estudos sugerem que pacientes idosos podem ter benefício reduzido ou nenhum benefício com a adição de oxaliplatina às fluoropirimidinas como quimioterapia adjuvante para câncer de cólon em estágio III.

Análise agrupada que envolveu 12 ensaios ACCENT/IDEA avaliou o impacto prognóstico da idade, a adesão ao tratamento e padrões de toxicidade por corte etário em pacientes idosos com câncer de cólon em estágio III que receberam 3 ou 6 meses de infusão de fluorouracil, leucovorina e oxaliplatina/capecitabina e oxaliplatina (CAPOX) como terapia adjuvante. Associações entre idade e tempo para recorrência (TTR), sobrevida livre de doença (SLD), sobrevida global (SG), sobrevida após recorrência (SAR) e sobrevida câncer específica (CSS) foram avaliadas por modelo de Cox ou modelo de risco concorrente, estratificado por estudo e ajustado por sexo, status de desempenho, estágio T e N e ano de inscrição no estudo.

Os resultados relatados por Papamichael e colegas no Journal of Clinical Oncology (JCO) mostram que 17.909 pacientes foram incluídos na análise, 24% deles com idade superior a 70 anos (4.340).

 Pacientes com idade ≥70 anos tiveram taxas mais altas de descontinuação precoce do tratamento. As taxas de eventos adversos de grau ≥3 foram semelhantes entre pacientes com mais e menos de 70 anos, exceto diarreia e neutropenia, que foram mais frequentes em pacientes idosos tratados com CAPOX (14,2% v 11,2%; P =,01 e 12,1% v 9,6%; P=.04, respectivamente).

Na análise multivariável, TTR não foi significativamente diferente entre pacientes <70 anos e aqueles ≥70 anos, mas SLD, SG, sobrevida após recorrência e sobrevida câncer específica foram significativamente menores em pacientes idosos.

“Em pacientes ≥70 anos com câncer de cólon estágio III aptos para serem inscritos em ensaios clínicos, a quimioterapia adjuvante à base de oxaliplatina foi bem tolerada e levou a TTR semelhante em comparação com pacientes mais jovens, sugerindo eficácia semelhante”, concluem os autores, destacando que TTR pode ser um desfecho mais apropriado para avaliar eficácia nesta população de pacientes.

A idade média no diagnóstico do câncer de cólon é de cerca de 70 anos em países ocidentais, mas esta população tem sido sub-representada nos ensaios adjuvantes mencionados, já que apenas 14%-20% dos pacientes inscritos nesses estudos tinham idade >70 anos.

Os dados de Papamichael e colegas fornecem mais garantias sobre o uso de terapia adjuvante à base de oxaliplatina em indivíduos idosos com câncer de cólon estágio III, embora se possa esperar com mais frequência a necessidade de modificações de dose e/ou interrupção precoce do tratamento.

“Até onde sabemos, esta análise conjunta de 12 ensaios adjuvantes incluindo mais de 17.000 pacientes é o maior estudo avaliando a tolerância e eficácia de quimioterapia adjuvantes contendo oxaliplatina de acordo com a idade, em pacientes com câncer de cólon estágio III”, destacam os autores. “Em nossa população, pacientes ≥70 anos tiveram maior probabilidade de pior status de desempenho (ECOG-PS ≥1), com maior frequência de tumores T4 e localizados no cólon proximal, além de fenótipo esporádico de MSI alto com BRAFV600E, consistente com outros relatos na literatura recente”, observam.

Outros fatores prognósticos foram estatisticamente diferentes de acordo com a idade, como relação grupo de risco ou linfonodo. A proporção de pacientes tratados com CAPOX foi maior em pacientes ≥70 anos (22% v 18,5% para CAPOX 6 meses e 17,5% v 13,2% para CAPOX 3 meses).

“Existe muita discussão da idade que devemos considerar como ponto de corte para oferecer ou não oxaliplatina no tratamento adjuvante de pacientes idosos com câncer colorretal. Isto porque são pacientes pouco representados em estudos clínicos, e os dados são conflitantes. Esta análise inclui um grande número de pacientes e traz suporte para quimioterapia adjuvante com oxaliplatina em pacientes com mais de 70 anos, que apresentam benefício com o tratamento, apesar de esperarmos um pouco mais de toxicidade”, analisa o oncologista Alexandre Paladino, Chefe da oncologia clínica do INCA (Hospital do Câncer I).

Referência: DOI https://doi.org/10.1200/JCO.23.01326. Published March 28, 2024