Onconews - Acurácia da biópsia do linfonodo sentinela no câncer de mama masculino

nazarioArtigo de Parpex et al. publicado na Breast mostra a primeira revisão sistemática e metanálise sobre a acurácia da biópsia do linfonodo sentinela no câncer de mama masculino, em homens com avaliação axilar pré-operatória negativa e cirurgia primária. O mastologista Afonso Celso Pinto Nazário (foto) comenta o estudo e analisa os resultados.

A biópsia do linfonodo sentinela (BLS) é comumente usada no tratamento cirúrgico do câncer de mama masculino, mas existem dados limitados sobre seu desempenho. Nesta revisão sistemática e metanálise, o objetivo dos pesquisadores foi avaliar a acurácia da BLNS nessa população.

Os autores revisaram as bases de dados da MEDLINE, EMBASE, Web of Science e Cochrane Library no período de janeiro de 1995 a abril de 2023, em busca de estudos avaliando a taxa de identificação de BLS e a taxa de falso-negativos no câncer de mama masculino com avaliação axilar pré-operatória negativa e cirurgia primária. Para taxa de falso-negativos de BLS, o padrão-ouro foi a histologia da dissecção de linfonodos axilares (ALDN). A qualidade metodológica foi avaliada por meio da ferramenta QUADAS-2. Foram calculadas estimativas agrupadas da taxa de identificação de BLS e a taxa de falsos negativos. A heterogeneidade dos estudos agrupados foi avaliada utilizando o índice I2.

A análise quantitativa incluiu 12 estudos retrospectivos. Os 12 estudos que relataram a taxa de identificação de BLS reuniram um total de 164 pacientes; os 5 estudos que relataram a taxa de falso-negativos da BLS reuniram um total de 50 pacientes com ALND sistemática.

Os resultados mostram uma estimativa agrupada muito alta da taxa de identificação da BLNS de 99,0% (IC 95% 97,1% –101,0%) sem heterogeneidade (I2 = 0,0%, p = 0,85). A média de linfonodos removidos foi de 1,1 a 3,0 e 44,8% deles eram metastáticos. Parpex e colegas ressaltam que as taxas de falso-negativo da BLS foram de 0% nos 5 estudos incluídos.

“A biópsia do linfonodo sentinela no câncer de mama masculino, após avaliação axilar pré-operatória negativa e cirurgia primária, parece viável, reprodutível e eficiente. Diante da alta taxa de BLS positivas e à sobrevida significativamente superior da ALND em comparação a BLS sozinha neste caso, nosso estudo incentiva a realização de exame histológico sistemático de BLS no câncer de mama masculino para realizar ALND imediata se positivo”, concluem os autores.

Apesar do desafio de incluir apenas 12 estudos retrospectivos e de centro único, refletindo a raridade do câncer de mama masculino, a meta-análise de Parpex e colegas corrobora a alta taxa de BLS positivo nesses pacientes.

A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto.

O estudo em contexto

Por Afonso Celso Pinto Nazário, Professor Livre-Docente e Chefe da Disciplina de Mastologia da EPM-UNIFESP, Coordenador do Programa de Pós-Graduação de Departamento de Ginecologia da EPM-UNIFESP, Titular da Academia Brasileira de Mastologia e Mastologista do Hcor

O câncer de mama no homem é raro (cerca de 1% de todos os casos de câncer de mama), mas sua incidência, à semelhança do sexo feminino, vem aumentando. O principal sintoma é o nódulo, seguido do fluxo papilar patológico. Os tipos histológicos mais frequentes são o invasivo não especial (ductal invasivo), seguido do papilífero intracístico e do ductal in situ. Em geral são luminais, com alta expressão de receptor de estrogênio e de progesterona. Como a incidência é pequena, a maioria das diretrizes de diagnóstico e de tratamento são extrapoladas do câncer de mama feminino.

O tratamento cirúrgico mamário em geral consiste na mastectomia e em raríssimas situações se indica a cirurgia conservadora.

Aspecto importante é a investigação rotineira de mutações patogênicas hereditárias no câncer de mama no homem, em particular da mutação do BRCA2.

O câncer de mama masculino com frequência é diagnosticado em estádios clínicos mais avançados e, neste contexto, é realizado tratamento neoadjuvante e/ou a linfonodectomia axilar. Mas quando diagnosticado em estádios iniciais, a biópsia do linfonodo sentinela (BLS) se impõe.

No presente artigo, Parpex et al (2024) realizaram revisão sistemática seguida de metanálise sobre a acurácia da BLS em pacientes masculinos com câncer. Foram incluídos 12 estudos retrospectivos com a informação da taxa de identificação do linfonodo sentinela e em cinco deles havia também a informação da taxa de falso-negativo.

A amostra analisada foi de 153 pacientes e a idade variou de 57 a 70 anos. A grande maioria dos pacientes foi tratada com mastectomia (89%); o tratamento adjuvante foi indicado em 58% dos casos. Na maioria dos casos, o método de identificação do linfonodo sentinela foi a dupla marcação (tecnécio + azul patente; 53%).

Como resultados, a taxa de identificação do linfonodo sentinela foi de 99%, com índices de falso-negativo de 0%.

A pesquisa de Parpex et al é a primeira metanálise na literatura abordando a acurácia da BLS no câncer de mama masculino e encontrou altíssima detecção do linfonodo sentinela e muito baixo índice de falso-negativo.

Como limitações do estudo, aponta-se o fato de se basear em estudos retrospectivos e a casuística avaliada ter sido pequena, o que é compreensível face à raridade do câncer de mama no homem.

É interessante observar que o ensaio clínico ACOSOG Z0011 parece não ser aplicável no câncer de mama masculino. Seguindo os critérios deste ensaio, Chung et al (2023) realizaram estudo retrospectivo e demostraram que a sobrevida global em 5 anos foi significativamente superior no braço em que foi feita linfonodectomia axilar quando comparado com aquele em que foi realizada somente a BLS (83,8% versus 76,0%).

Não há estudos na literatura que avaliaram a BLS nos casos de N1 com redução para N0 após quimioterapia neoadjuvante no câncer de mama masculino e, nesta situação, extrapola-se as diretrizes do câncer de mama na mulher, ressecando-se pelo menos 3 linfonodos, de preferência após dupla marcação (tecnécio + azul patente).

Em conclusão, a BLS é segura, viável, reprodutível e eficiente no câncer de mama masculino. Em relação à aplicação do ensaio ACOSOG Z0011 no câncer de mama no homem, evidências retrospectivas apontam que não pode ser aplicado, mas faltam estudos prospectivos para validar esta afirmação.

Referência: https://doi.org/10.1016/j.breast.2024.103703