Resultados de 5 anos do estudo de fase 2 OLIGOPELVIS (GETUG-P07) mostram que a combinação de 6 meses de terapia de privação androgênica (ADT) e radioterapia nodal eletiva (ENRT) em homens com oligorrecorrência nodal pélvica (< 6 lesões) de câncer de próstata parece prolongar o controle do tumor, com toxicidade limitada. O radio-oncologista Rodrigo Hanriot (foto) comenta o trabalho.

Entre agosto de 2014 e julho de 2016, foram recrutados 67 pacientes, em 15 centros. A coorte foi dividida em dois grupos: o grupo 1 incluiu pacientes com uma primeira recorrência bioquímica (n = 37) após tratamento primário (prostatectomia radical ou radioterapia) e o grupo 2 incluiu pacientes com segunda recorrência bioquímica após tratamento prostático e radioterapia no leito (n = 30). A progressão foi definida como dois níveis consecutivos de antígeno específico da próstata (PSA) acima do nível de inclusão e/ou progressão clínica (RECIST v1.1) e/ou morte por qualquer causa.

Nesta análise, os pesquisadores apresentam resultados de um seguimento mediano de 6,1 anos (intervalo de confiança de 95% 5,9–6,3). As taxas de sobrevida livre de progressão, livre de recidiva bioquímica e livre de ADT em 5 anos foram de 39%, 31% e 64%, respectivamente. A SLP mediana foi de 3,8 anos (IC 95% 2,8–5,1).  No total, 45 pacientes apresentaram progressão, que foi apenas do PSA em sete casos. Entre os outros 38 pacientes, a progressão clínica local ocorreu em 18%, a progressão para o estágio N1 em 29%, para o estágio M1a em 50%, para o estágio M1b em 32% e para o estágio M1c em 11%.

Aos 5 anos, a sobrevida livre de tratamento de segunda linha (SLTS) foi de 43% (IC 95% 33–57%) e a sobrevida livre de metástases (SLM) foi de 59% (IC 95% 48–72%), com SLM de 6,6 anos (IC 95% 4,5 – não aplicável). A taxa de sobrevida global em 5 anos foi de 92% (IC 95% 86–99%).

As taxas de toxicidade de grau 2+ entre pacientes sem progressão aos 3, 4 e 5 anos foram de 15%, 9% e 4% para toxicidades geniturinárias e 2%, 3% e 4% para toxicidades gastrointestinais, respectivamente.

Em conclusão, ENRT e ADT combinadas não resultaram em toxicidade significativa e pareceram prolongar o controle do tumor. Aos 5 anos, um terço dos pacientes ainda estava em remissão completa, sem recidiva bioquímica. O principal local de recidiva foram os linfonodos para-aórticos.

O estudo em contexto

Por Rodrigo Hanriot, Diretor do Departamento de Radioterapia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

A doença prostática quando se torna metastática é considerada incurável e demanda tratamento sistêmico definitivo, com quase inevitável progressão entre as linhas de tratamento, até que as mesmas se esgotem.

Porém, ao longo dos últimos anos estamos identificando pacientes com pouca doença metastática – os considerados oligometastáticos, com até 3 ou até 5 lesões - que podem responder à associação de tratamento sistêmico com tratamento focal, no caso radioterapia ablativa (SBRT ou SABR).

Um dos primeiros estudos apresentados, o trial SABR-COMET incluía várias histologias além de próstata, e em 07 anos demonstrou não só aumento do intervalo livre de progressão (adiando troca de terapia sistêmica), mas também aumento de sobrevida global.

Posteriormente, estudos dirigidos especificamente para oligometástases de próstata (ORIOLE, STOMP, EXTEND) tratados com SBRT com ou sem hormonioterapia convergiram para o mesmo resultado, de aumento de intervalo livre de progressão e em alguns, livre de metástases.

Neste estudo do grupo francês OLIGOPELVIS GETUG-P07 novamente se confirma a impressão inicial de que em doença oligometastática a adição de terapia focal ablativa aumenta o intervalo livre de progressão e ainda “seleciona” cerca de um terço dos pacientes que terão pelo menos 5 anos sem evidências de recidiva da doença (seria curativo?).

Mas a fragilidade deste e dos estudos anteriores se dá por estudos de fase 2, pequeno número de pacientes e o risco do imortal time bias quando do uso de hormonioterapia de curto prazo, mas nada que uma futura meta-análise não possa aprimorar e nos fornecer as respostas necessárias. Enquanto isto, SBRT para oligometástases passa a ser fortemente recomendada.

Referência: https://doi.org/10.1016/j.eururo.2024.02.013