A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) concluiu sua revisão do medicamento radium 223 (Xofigo®, Bayer) e recomendou restringir seu uso a pacientes que receberam dois tratamentos anteriores para câncer de próstata metastático (metástase óssea) ou que não podem receber outros tratamentos. O documento também recomenda que o radiofármaco não seja utilizado em conjunto com abiraterona (Zytiga) e com os corticosteroides prednisona ou prednisolona.
As recomendações são baseadas nos dados do estudo randomizado de fase III ERA-223, que mostrou um aumento na incidência de fraturas (28,6% vs 11,4%), uma possível redução na mediana de sobrevida global (30,7 meses vs 33,3 meses, HR 1,195, 95% IC 0,950 - 1,505, p = 0,13) e um risco aumentado de progressão radiológica não óssea (HR 1,376 [IC 95% 0,972, 1,948], p = 0,07) entre os pacientes que receberam radium 223 em associação com acetato de abiraterona e prednisona/prednisolona (n=401) em comparação com os pacientes que receberam placebo em combinação com abiraterona e prednisona/prednisolona (n=405).
Além disso, um risco aumentado de fratura foi encontrado particularmente em pacientes com histórico médico de osteoporose e em pacientes com menos de 6 metástases ósseas. 29% dos pacientes que receberam a combinação Xofigo tiveram fraturas, em comparação com 11% dos pacientes que receberam a combinação com placebo. A combinação utilizada neste estudo está agora contraindicada.
Outro ensaio clínico randomizado de fase III, o ALSYMPCA, não demonstrou benefício de sobrevida global estatisticamente significativo do tratamento com radium 223 nos subgrupos de pacientes com menos de 6 metástases (HR para o radium 223 a placebo 0,901; 95% IC [0,553 - 1,466], p = 0,674) ou uma fosfatase alcalina total no baseline (ALP) <220 U/L (HR 0,823 95% IC 0,633-1,068, p = 0,142), indicando que a eficácia pode estar diminuída em pacientes com um baixo nível de atividade osteoblástica de suas metástases ósseas.
Segundo o documento, o radium 223 só deve ser utilizado em monoterapia ou em associação com um análogo da LHRH para o tratamento de pacientes com câncer de próstata metastático resistente à castração (CPRCm), metástases ósseas sintomáticas e sem metástases viscerais conhecidas, que estão em progressão após pelo menos dois linhas de terapia sistêmica para mCRPC (que não sejam análogos de LHRH), ou inelegíveis para qualquer tratamento sistêmico disponível de CPRCm.
A revisão sugere ainda que antes de iniciar o tratamento, e durante sua administração, sejam realizadas avaliações do estado ósseo dos pacientes (por exemplo, por cintilografia, medição da densidade mineral óssea) e risco de fraturas (por exemplo, osteoporose, menos de 6 metástases ósseas, aumento do risco de fratura, e baixo índice de massa corporal). O monitoramento deve continuar por pelo menos 24 meses. O parecer dos revisores tamém destaca que o uso concomitante de bifosfonatos ou denosumabe reduz a incidência de fraturas em pacientes tratados com o radiofármaco, e tais medidas preventivas devem ser consideradas antes de iniciar ou retomar o tratamento.
As recomendações do Comitê de Avaliação do Risco em Farmacovigilância (PRAC) foram aprovadas pelo Comitê de Medicamentos para Uso Humano (CHMP) da EMA e serão enviadas à Comissão Europeia para uma decisão final.