A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ampliou a indicação de uso da enzalutamida (xtandi®, Astellas), agora para o tratamento de pacientes com câncer de próstata resistente à castração não-metastático. Publicada no Diário Oficial da União (DOU) dia 30 de julho, a aprovação foi baseada nos resultados do estudo de fase III PROSPER, apresentados em fevereiro na ASCO GU e publicados no New England Journal of Medicine em junho. “A ampliação da indicação da enzalutamida vem suprir uma lacuna na história natural do câncer de próstata, onde a melhor terapia para o fenótipo de pacientes com carcinoma de próstata resistente a castração não metastático precisava ser preenchida”, avalia o oncologista Igor Morbeck (foto), médico do Hospital Sírio-Libanês e professor da PUC, em Brasília.
O estudo de fase III PROSPER envolveu 1.401 pacientes com CPRC não metastático. Os pacientes foram randomizados 2:1 para XTANDI mais ADT ou placebo mais ADT (ADT isolado). Os resultados demonstraram que o uso da terapia de privação androgênica (ADT) mais enzalutamida reduziu significativamente o risco de desenvolvimento de metástase ou morte em comparação a ADT isolada em homens com CPRC não metastático. A mediana do desfecho primário, sobrevida livre de metástases (MFS), foi de 36,6 meses para homens que receberam enzalutamida mais ADT em comparação com 14,7 meses com ADT isolada (N = 1401; HR = 0,29 [95% CI: 0,24-0,35]; p <0,0001).
O endpoint primário de eficácia foi apoiado por um atraso estatisticamente significativo no tempo para o primeiro uso da nova terapia antineoplásica (TTA) para pacientes que receberam enzalutamida mais ADT em comparação com aqueles que receberam ADT isolada (mediana 39,6 meses vs 17,7 meses; HR = 0,21 [ IC 95%: 0,17-0,26], p <0,0001). Os dados de sobrevida global não estavam maduros no momento da análise.
As reações adversas mais frequentes (superiores ou iguais a 10%) em doentes tratados com enza + ADT foram condições de astenia (40% vs 20%), fogachos (13% vs 7,7%), hipertensão (12% vs 5,2%), tontura (12% vs 5,2%), náusea (11% vs 8,6%) e queda (11% vs 4,1%). Reações adversas de grau 3 ou superiores foram relatadas em 31% dos homens tratados com enzalutamida mais ADT e em 23% dos homens tratados com ADT isolado.
Segundo Morbeck, é importante fazer algumas observações em relação ao estudo PROSPER. A primeira é que foi utilizado um desfecho clínico pouco conhecido como substituto da análise de sobrevida global ("Surrogate endpoint"). Embora validado em outros cenários, a sobrevida livre de metástases pode ser considerada como um desfecho clinicamente relevante aos pacientes com doença M0 e com potencial risco ao desenvolvimento de metástases. “O PROSPER chama a atenção pelo grande número de pacientes envolvidos (n=1401). Importante ressaltar que esta é uma população relativamente incomum de pacientes e que tende a se reduzir, principalmente se considerarmos o importante valor preditivo dos novos métodos de imagem (PET-PSMA e Colina) indicados nos casos de recidiva bioquímica. O PET–PSMA chega a apresentar taxas de detecção de doença (valor preditivo positivo) em mais de 80% dos casos”, diz.
Outro aspecto destacado pelo oncologista é que 77% dos pacientes do estudo apresentavam o tempo de duplicação do PSA menor que 6 meses. “Sabe-se que este é um dos mais importantes fatores de risco ao desenvolvimento de metástases a distância. Portanto, o uso da enzalutamida para pacientes de menor risco, com tempo de duplicação do PSA superior a 11 meses e doença indolente deve ser questionado, uma vez que o custo e a toxicidade são fatores que devem ser levados em conta no momento da indicação clínica”, conclui.
Referências: Hussain M, Fizazi K, Saad F, et al. Enzalutamide in men with nonmetastatic, castration-resistant prostate cancer. N Engl J Med 2018;378:2465-74. DOI: 10.1056/NEJMoa1800536 [Published online June 28, 2018]