A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso de ibrutinibe (Imbruvica®, Pharmacyclics/Janssen) para pacientes com macroglobulinemia de Waldenstrom (MW) previamente tratados.
A aprovação teve como base o estudo de Fase II publicado no New England Journal of Medicine1 em 2015 que demonstrou que pacientes com MW que haviam recebido pelo menos um tratamento anterior apresentaram 90,5% de resposta, sendo 73% de resposta parcial, com uma mediana de tratamento de 19,1 meses com ibrutinibe.
“O ibrutinibe é um inibidor da tirosina quinase de Bruton (BTK), uma droga de uma classe especial, e realmente os resultados são bem animadores. Pretendo usar nos pacientes com macroglobulinemia de Waldenstrom (MW) que eu trato”, diz Jacques Tabacof, Coordenador de Oncologia Clínica do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e membro do Centro Paulista de Oncologia (CPO), do Grupo Oncoclínicas.
O medicamento já é registrado no Brasil para o tratamento de pacientes com leucemia linfocítica crônica (LLC) e linfoma de células do manto (LCM) que tiveram recaída ou não responderam a tratamentos anteriores.1,2 A nova indicação foi publicada no Diário Oficial da União dia 26 de setembro.
Com desenvolvimento lento, a macroglobulinemia de Waldenstrom (MW) é um tipo de linfoma não Hodgkin que começa nas células B (células linfoplasmocíticas)3. Os pacientes geralmente são diagnosticados após desenvolverem sintomas associados aos linfomas não-Hodgkin como anemia, fadiga, perda de peso, febre, aumento dos gânglios linfáticos e sudorese noturna ou sintomas relacionados ao excesso de IgM no sangue4. Nos Estados Unidos, existem entre 1000 e 1500 casos da doença a cada ano, com uma idade média de diagnóstico de 60 a 70 anos e média de sobrevida de 5 a 10 anos3-5.
O estudo
O estudo prospectivo incluiu 63 pacientes sintomáticos com macroglobulinemia de Waldenstrom que tinham recebido pelo menos um tratamento anterior e investigou o efeito de mutações MYD88 e CXCR4 sobre os resultados. Ibrutinibe foi administrado a uma dose de 420 mg/dia por via oral até progressão da doença ou toxicidade inaceitável.
Após receberem o medicamento, os níveis séricos médios de IgM diminuíram de 3,520 mg por decilitro para 880 mg por decilitro; os níveis médios de hemoglobina aumentaram de 10,5 g por decilitro para 13,8 g por decilitro; e o envolvimento da medula óssea diminuiu de 60% para 25% (P <0,01 para todas as comparações).
O tempo médio para uma resposta mínima foi de 4 semanas. A taxa de resposta global foi de 90,5%, e a taxa de resposta principal foi 73,0%. Estas taxas foram mais elevadas entre os pacientes com MYD88L265PCXCR4WT (taxa de resposta global de 100% e taxa de resposta principal 91,2%), seguido pelos pacientes com MYD88L265PCXCR4WHIM (85,7% e 61,9%, respectivamente) e pacientes com MYD88WTCXCR4WT (71,4 % e 28,6%). As taxas estimadas de sobrevida livre de progressão e sobrevida global em 2 anos entre todos os pacientes foram 69,1% e 95,2%, respectivamente.
Efeitos adversos relacionados com o tratamento de grau 2 ou superior incluíram neutropenia (em 22% dos pacientes) e trombocitopenia (14%), que foram mais comuns em pacientes intensamente pré-tratados.
Os autores concluíram que ibrutinibe foi altamente ativo, associado a respostas duráveis, e seguro em pacientes com macroglobulinemia Waldenstrom pré-tratados. O estudo também demonstrou que o status das mutações MYD88 e CXCR4 afeta as respostas ao medicamento.
Referências
1 - Treon SP, et al. Ibrutinib in previously treated Waldenström's macroglobulinemia. N Engl J Med. 2015;372(15):1430-40.
2 - Bula de Imbruvica®
3 - American Cancer Society. "What is Waldenstrom macroglobulinemia?" Acesso em 03/10/2016.
4 - Fonseca R, Hayman S. Waldenström macroglobulinaemia. Br J Haematol. 2007;138(6)700-720.
5 - American Cancer Society. Signs and Symptoms of Waldestrom Macroglobulinemia. Acesso em 03/10/2016.