Onconews - ARCHES: análise final mostra benefício de SG de enzalutamida mais ADT no câncer de próstata metastático hormônio-sensível

jose mauricio 21 bxAnálise final pré-especificada de sobrevida global publicada no Journal of Clinical Oncology (JCO) demonstrou que a combinação de enzalutamida e ADT prolonga significativamente a sobrevida em comparação com placebo mais ADT em homens com câncer de próstata metastático hormônio-sensível, incluindo subgrupos clinicamente importantes. José Mauricio Mota (foto), chefe do grupo de tumores geniturinários (oncologia clínica) do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP-FMUSP) e oncologista titular da Oncologia D’Or, comenta os resultados.

No estudo de fase III ARCHES, global, duplo-cego, 1.150 pacientes com câncer de próstata metastático hormônio-sensível (mHSPC) foram randomizados 1:1 para enzalutamida (160 mg uma vez ao dia) mais ADT ou placebo mais ADT, estratificados por volume da doença e uso prévio de docetaxel. Após abertura do cegamento, 180 (31,3%) pacientes livres de progressão randomizados para placebo mais ADT realizaram o crossover para enzalutamida mais ADT.“Incluindo os pacientes do crossover, 70% dos casos incluídos no grupo ADT + placebo receberam alguma terapia subsequente associada sabidamente capaz de prolongar a sobrevida, sendo que 42% receberam enzalutamida como primeira terapia posterior”, observou Mota. Em 28 de maio de 2021, com um acompanhamento médio de 44,6 meses, 154 dos 574 pacientes randomizados para enzalutamida mais ADT e 202 dos 576 pacientes randomizados para placebo mais ADT haviam evoluído a óbito.

Enzalutamida mais ADT reduziu o risco de morte em 34% em comparação com placebo mais ADT, e a mediana não foi alcançada em nenhum dos grupos (hazard ratio 0,66, 95% CI 0,53 a 0,81; p < 0,001). Enzalutamida mais ADT continuou a melhorar a sobrevida livre de progressão radiológica (rPFS) e outros desfechos secundários.

“O benefício de sobrevida de enzalutamida mais ADT tornou-se mais evidente com o acompanhamento adicional. A combinação também atrasou o início da primeira terapia antineoplásica subsequente. No total, 70% dos pacientes que inicialmente receberam placebo mais ADT passaram a receber um tratamento de prolongamento da vida e, incluindo aqueles que fizeram o crossover, 42% passaram ao tratamento com enzalutamida. Apesar disso, um benefício de sobrevida estatisticamente significativo foi observado com enzalutamida mais ADT, destacando a importância do uso precoce em pacientes com mHSPC, em vez de retardar o início até o desenvolvimento de resistência à castração”, observaram os autores.

O uso em longo prazo da enzalutamida foi bem tolerado e não foi associado a novas preocupações de toxicidade.

“A combinação de ADT + enzalutamida já havia demonstrado ganho de sobrevida global em comparação ao uso de ADT + antiandrógeno de primeira geração (bicalutamida, flutamida ou nilutamida), no estudo ENZAMET. O estudo ARCHES tem algumas diferenças metodológicas notáveis em relação ao estudo ENZAMET, mas vem confirmar o entendimento de que a terapia de intensificação com enzalutamida associada ao ADT para o câncer de próstata metastático sensível à castração é uma opção válida”, destaca Mota.

“Atualmente, o padrão de tratamento da doença metastática sensível à castração deve ser ADT + alguma estratégia de intensificação disponível, sendo a escolha do tratamento dependente de múltiplos fatores, como comorbidades, custos, medicações concomitantes, desejo do paciente e acesso”, conclui.

Parte dos resultados foi apresentada anteriormente na ESMO 2021.

O estudo foi apoiado pela Astellas Pharma e Pfizer e está registrado em ClinicalTrials.gov: NCT02677896.

Referência: Armstrong AJ, Azad AA, Iguchi T, et al. Improved Survival With Enzalutamide in Patients With Metastatic Hormone-Sensitive Prostate Cancer. Journal of Clinical Oncology; Published online 14 April 2022. DOI: 10.1200/JCO.22.00193