Em 2022, a ASCO lançou diretrizes de prática clínica para tratamento sistêmico de pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) em estágio IV, com e sem alterações drivers. Agora, novo guideline publicado 19 de dezembro pela ASCO analisa as evidências e fornece recomendações atualizadas sobre novas terapias para essa população de pacientes.
Para pacientes com CPCNP avançado com mutação ativadora do receptor 2 do fator de crescimento epidérmico humano (HER2, ERBB2) previamente expostos a terapia sistêmica, a atualização da diretriz preconiza trastuzumabe deruxtecana (Enhertu®, Daiichi Sankyo) em monoterapia. A evidência vem do estudo multicêntrico randomizado (DESTINY-Lung02) que inscreveu pacientes com CPCNP não escamoso, irressecável ou metastático com mutação HER2, que apresentaram progressão da doença após terapia sistêmica anterior.
Os participantes receberam trastuzumabe deruxtecana na dose de 5,4 mg/kg a cada 3 semanas, até progressão da doença ou toxicidade inaceitável. Em análise que envolveu 52 pacientes com idade média de 58 anos (30-78), majoritariamente mulheres, trastuzumabe deruxtecana provocou taxa de resposta objetiva (ORR) de 58% (95% CI, 43%-71%) confirmada por comitê de revisão independente (RECIST v1.1), com duração mediana de resposta de 8,7 meses (95% CI, 7,1–não estimável [NE]).
Entre as inovações incorporadas às diretrizes para CPCNP avançado com alterações drivers também está a monoterapia com sotorasibe (Lumakras®, Amgen) para pacientes com mutação KRAS-G12C que receberam terapia sistêmica anterior.
Em pacientes sem mutações acionáveis, os autores descrevem meta-análise de quatro estudos randomizados controlados que não demonstrou nenhum benefício de sobrevida global com terapia de manutenção com anti-VEGF (fator de crescimento endotelial vascular) além de pemetrexede em comparação com pemetrexede de manutenção isoladamente. No entanto, a meta-análise não incluiu o estudo ECOG-ACRIN 5508, ensaio que envolveu 874 pacientes com CPCNP não escamoso, randomizados para pemetrexede isoladamente ou em combinação com bevacizumabe. Neste estudo, a combinação não demonstrou benefício e ainda agregou toxicidades mais altas.
Diante dessas evidências, o painel de especialistas recomenda que bevacizumabe não deve ser adicionado a pemetrexede mais carboplatina ou administrado como manutenção com pemetrexede. A diretriz de prática clínica ainda destaca que a quimioterapia de platina de primeira linha sem imunoterapia não é considerada padrão de tratamento, mas pode ser considerada em pacientes inelegíveis para imunoterapia.
A atualização integra a proposta da ASCO de desenvolver rotineiramente diretrizes para áreas com evidências em rápida evolução e que impulsionam mudanças frequentes na prática clínica (ASCO Living Guidelines).
Referências:
Therapy for Stage IV Non–Small-Cell Lung Cancer Without Driver Alterations: ASCO Living Guideline, Version 2022.2. December 19, 2022 - DOI: 10.1200/JCO.22.02121 Journal of Clinical Oncology
Therapy for Stage IV Non–Small-Cell Lung Cancer With Driver Alterations: ASCO Living Guideline, Version 2022.2. December 19, 2022 - DOI: 10.1200/JCO.22.02124 Journal of Clinical Oncology