Novas descobertas estão transformando a dicotomia tradicional do status HER2 no câncer de mama, com potencial de promover uma verdadeira revolução. Revisão publicada na Frontiers in Molecular Biosciences destaca o assunto, lembrando que evidências recentes mostram que tumores com baixos níveis de expressão de HER2 (ou seja, IHC 1+ ou 2+ com ISH negativo), também chamados de câncer de mama HER2 "Low", alcançaram elevadas taxas de resposta após tratamentos com anticorpos droga conjugados, ampliando resultados de sobrevida (Iwata et al., 2018; Banerji et al., 2019; Schettini et al., 2021).
"O status de HER2 no câncer de mama é avaliado para selecionar pacientes elegíveis para terapia-alvo com drogas anti-HER2. De acordo com a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e o Colégio de Patologistas Americanos (CAP), a positividade do teste HER2 é definida pela superexpressão de proteínas (escore 3+) na imuno-histoquímica (IHC) e/ou amplificação gênica na hibridização in situ (ISH). No entanto, a introdução de novos compostos anti-HER2 está mudando esse paradigma, porque alguns tumores de mama com níveis mais baixos de expressão de proteínas
(ou seja, pontuação 1+/2+ sem amplificação gênica) se beneficiaram de anticorpo droga conjugado (ADC)", destacam os autores.
É com esse olhar que a revisão se propõe a apresentar o estado da arte em patologia preditiva do câncer de mama para além do espectro de positividade de HER2, revelando um crescente corpo de conhecimento que aprofunda a compreensão dos mecanismos moleculares do câncer de mama.
A patologista Helenice Gobbi, membro da Sociedade Brasileira de Patologia, lembra que toda a metodologia e protocolos utilizados atualmente foram validados para identificar tumores com superexpressão de HER2. “Há diferentes anticorpos disponíveis comercialmente, que reconhecem diferentes porções da proteína e têm sensibilidades e especificidades diferentes. Ainda não temos um método ideal para estratificar os pacientes e, possivelmente, será necessário incluir outras metodologias como RT-PCR, inteligência artificial ou ainda conjugar biomarcadores”, analisa.
Helenice destaca um problema antigo e reforça que os fatores pré-analíticos ainda são um problema no Brasil, país em que a maioria dos hospitais não têm laboratório próprio de Patologia e as biópsias e peças cirúrgicas são transportadas dos pontos de coleta até os laboratórios. “Os protocolos de amostragem e fixação nem sempre são seguidos, como o uso de formol tamponado, tempo de fixação, tempo longo entre cirurgia e clivagem da peça cirúrgica, levando à isquemia fria e degradação tecidual”, diz a especialista.
Variáveis biológicas do tumor também devem ser consideradas como heterogeneidade tumoral, que pode afetar os resultados. “É o caso, por exemplo, de biópsias por agulha, em que temos amostra limitada do tumor com resultado negativo ou HER2-low. Em pacientes que fazem terapia neoadjuvante sistêmica, a reavaliação do HER2 fica limitada à peça cirúrgica após o tratamento, pois pode ocorrer alteração da expressão do HER2 no tumor residual ou ausência de tumor nos casos de resposta patológica completa”, prossegue Helenice.
A patologista destaca, ainda, novos cenários e perspectivas na caracterização molecular do câncer de mama. “Avanços recentes nas possibilidades terapêuticas das pacientes com tumores Her2-low (vacina, anticorpos conjugados que reconheçam mais de um epitopo, caracterização molecular adicional com benefício de bloqueio de HER2 nas HER2 negativas com deficiência de reparo do DNA), mostram ser este um campo em expansão”.
Referência: Venetis K, Crimini E, Sajjadi E, et al. HER2 Low, Ultra-low, and Novel Complementary Biomarkers: Expanding the Spectrum of HER2 Positivity in Breast Cancer. Front Mol Biosci. 2022;9:834651. Published 2022 Mar 15. doi:10.3389/fmolb.2022.834651