Onconews - Biopsia de medula óssea não agrega valor à avaliação de resposta no linfoma folicular

chiattone 21Em ensaios clínicos, biópsias de medula óssea (BMO) são realizadas antes/após a terapia para confirmar a resposta completa (CR) em pacientes com linfoma. Análise relatada por Rutherford et al. no Journal of Clinical Oncology (JCO) mostrou que BMO agrega pouco valor à avaliação da resposta em indivíduos com linfoma folicular (LF) e recomenda eliminar BMO tanto do contexto de ensaios clínicos quanto das diretrizes de diagnóstico e tratamento no LF. O oncohematologista Carlos Chiattone (foto) analisa os resultados.

Nesta análise, os pesquisadores procuraram estabelecer se a BMO agrega valor na avaliação da resposta ou se é um preditor dos resultados de sobrevida livre de progressão (SLP) e/ou sobrevida global (SG) em indivíduos com linfoma folicular em coortes de pacientes envolvidos em ensaios multicêntricos.

Os dados foram agrupados a partir de sete ensaios compreendendo 580 indivíduos com LF através das bases da Alliance for Clinical Trials in Oncology (Alliance) e da SWOG Cancer Research Network (SWOG). Foram considerados pacientes sem tratamento prévio, incluídos entre 2008 e 2016.

Os resultados publicados online em 5 de julho no JCO mostram que apenas 5/580 (0,9%) tiveram BMB basal positivo, resposta completa (RC) na imagem e BMB positivo subsequente (P < 0,0001). Portanto, BMB foi irrelevante para a resposta em 99% dos indivíduos, sublinha a análise. Dados de sobrevida e da primeira RC radiológica compreendendo 580 indivíduos da Alliance e SWOG também foram considerados na análise. Os autores descrevem que dos indivíduos com RC por imagem (n = 187), a SG e a SLP não foram significativamente diferentes entre aqueles com BMO negativo para confirmar RC (n = 47) versus aqueles sem BMO de confirmação (n = 140; SLP: razão de risco ajustada, 1,10, 95% CI, 0,62 a 1,94, log-rank P = 0,686; SG: razão de risco, 0,59, 95% CI, 0,23 a 1,53, log-rank P = 0,276).

“Concluímos que a BMO agrega pouco valor à avaliação da resposta em indivíduos com Linfoma folicular tratados em ensaios clínicos e recomendamos eliminar a BMO dos requisitos de ensaios clínicos. A BMO também deve ser removida das diretrizes de diagnóstico para LF, exceto em cenários em que pode mudar o manejo, incluindo confirmação de estágio limitado e avaliação de citopenias. Isso reduziria o custo, o desconforto do paciente, a utilização de recursos e, potencialmente, removeria uma barreira à inscrição no estudo”, destacam os autores.

Em síntese, em 99% dos indivíduos com LF inscritos nos ensaios clínicos da National Clinical Trials Network, a resposta permaneceu inalterada com base nos resultados da BMO. Entre os indivíduos com resposta completa por imagem, não houve diferença de sobrevida livre de progressão ou sobrevida global naqueles com BMO confirmatório negativo versus aqueles que não se submeteram ao procedimento. ”BMO deve ser removida das diretrizes de diagnóstico para LF, exceto em cenários em que pode alterar o manejo, incluindo confirmação de estágio limitado e avaliação de citopenias”, aponta a análise.

Segundo Carlos Chiattone, Professor Titular de Hematologia e Oncologia da FCM da Santa Casa de São Paulo e Coordenador da Onco-Hematologia do Hospital Samaritano-Higienópolis, este estudo, que necessita confirmação, pode trazer uma mudança de conduta no linfoma folicular com a exclusão da BMO, um procedimento invasivo, de custo não desprezível e que demanda tempo. "Exceções citadas pelos autores devem ser consideradas, como nas citopenias inesperadas e nos raros casos de linfoma folicular identificados como localizados quando avaliados apenas por exame de imagem", observa.

Referência: Relevance of Bone Marrow Biopsies for Response Assessment in US National Cancer Institute National Clinical Trials Network Follicular Lymphoma Clinical Trials - DOI: 10.1200/JCO.21.02301 Journal of Clinical Oncology - Published online July 05, 2022.