Estudo de pesquisadores brasileiros publicado na Precision Medicine, com participação do oncogeneticista José Claudio Casali da Rocha (foto), discute desafios e perspectivas da biópsia líquida, com recomendações para expandir sua adoção no Brasil. “Em um país com limitada capacidade de recursos e profundas desigualdades na assistência à saúde, queremos mostrar a importância de aumentar a utilização da biópsia líquida no diagnóstico, tratamento e seguimento do câncer, melhorando o acesso a essa nova ferramenta molecular”, diz Casali.
Entre os argumentos descritos no artigo da Precision Medicine (vol 4, nº 1), o estudo brasileiro explica que a biópsia líquida é custo-efetiva para o manejo do câncer no Brasil e mostra que diante da heterogeneidade da doença é uma ferramenta complementar ao gerenciamento atual, permitindo acompanhar a evolução do paciente e a resposta ao tratamento.
Ao comparar vantagens e desvantagens da biópsia líquida frente à biópsia de tecido, os autores concluem que a nova abordagem deve ser vista de forma complementar, com a vantagem de capturar a informação genômica do tumor a partir do DNA, tendência que marca a moderna oncologia personalizada. “As diretrizes clínicas aprovadas atualmente incluem biópsia líquida apenas em câncer de pulmão, mas o potencial também é enorme em outros tumores, seja para rastreamento e diagnóstico, até para avaliar risco de recaída e controle da doença”, explica o oncogeneticista.
A revisão brasileira recorre à base de evidências para ilustrar a variabilidade de aplicações e cita estudo de Bettegowda et al, que usaram a reação baseada em cadeia da polimerase digital para medir os níveis de DNA tumoral circulante (ctDNA) em amostras de plasma de 640 pacientes com vários tipos de câncer. “Entre os participantes com doença metastática avançada, o ctDNA foi detectado em 82% dos pacientes com tumores sólidos fora do cérebro, incluindo mais de 75% de pacientes com câncer de bexiga, colorretal e ovário avançado, além de tumores gastroesofágicos, de pâncreas, mama, hepatocelular e melanomas”, descrevem os autores.
Para aplicações de screening, a evidência vem de Cohen et al, em estudo que examinou 1.005 pacientes com tumores não metastáticos de ovário, fígado, estômago, pâncreas, esôfago, colorretal, pulmão e mama. “Os testes de triagem foram positivos em uma mediana de 70%, mesmo para tumores que atualmente não possuem estratégias efetivas de rastreamento populacional”, registra o artigo da Precision Medicine.
Entre as principais recomendações, o estudo brasileiros propõe a definição de diretrizes gerais sobre os usos e aplicações da biópsia líquida, sublinhando a importância de estabelecer as melhores práticas, incluindo protocolos padronizados para coleta da amostra, processamento e detecção de ctDNA. “Melhores práticas devem ser desenvolvidas para diminuir complexidades metodológicas e garantir um processo padronizado altamente confiável”, recomendam os autores.
Em outra frente, o estudo destaca a avaliação de doença residual mínima através da biópsia líquida, uma aplicação que começa a ganhar importância, com evidências de que a ferramenta molecular “é capaz de prever a recidiva clínica com alto nível de precisão”.
A revisão completa está disponível na Precision Medicine (volume 4, nº 1), em acesso aberto.
Referência: Neder et al., Precision Medicine, vol 4, nº1, 2019,1-10