Estudo apresentado na 11ª European Breast Cancer Conference, em Barcelona, comparou pacientes idosas com câncer de mama inicial, tratadas com cirurgia ou terapia endócrina primária (TEP). Os resultados foram destaque no programa científico e mostram que a cirurgia teve impacto negativo na qualidade de vida.
O controle do câncer de mama inicial pode ser um desafio em mulheres idosas, diante da fragilidade e da multimorbidade dessas pacientes. Este estudo de coorte multicêntrico, prospectivo, avaliou a qualidade de vida (QV) em mulheres > 70 anos, com câncer de mama operável. A avaliação de QV pré e pós-tratamento foi baseada no EORTC-QLQ-C30, BR23 e ELD14 no baseline e após 1,5, 6, 12, 18 e 24 meses. Os pacientes tratados com cirurgia ou TEP receberam escores de propensão, que combinaram idade, comorbidade (Índice de Comorbidade de Charlson Modificado -ICCM), status funcional (Atividades da Vida Diária - AVD) e características tumorais pré-operatórias (tamanho, grau status nodal).
Resultados
O estudo recrutou mais de 3 mil mulheres entre fevereiro de 2013 e 2018, de 56 centros no Reino Unido. Dados de qualidade de vida estavam disponíveis para 1652 cirurgias e para 202 pacientes que receberam TEP. A correspondência de escore de propensão de 1: 1 resultou em 162 casos em cada braço. A mediana de idade foi de 82 anos (variação de 70 a 96). A mediana dos escores ICCM e AVD foi de 5 (3 a 9) e 19 (9 a 20), respectivamente.
O braço cirúrgico teve maior escore global de qualidade de vida no início da análise comparado com TEP (71 vs 67, p = 0,04), mas em 6 semanas o indicador de qualidade de vida caiu para 66 (p = 0,0067) e não se recuperou em mais de 2 anos de acompanhamento. A QV global no grupo que recebeu terapia endócrina permaneceu estável (64 anos a 2 anos).
A cirurgia causou diminuição significativa na maioria dos domínios funcionais no período pós-operatório imediato e o impacto negativo de manteve a longo prazo.
Em mais de 2 anos, houve 13 mortes no grupo submetido à cirurgia (4 em decorrência do câncer de mama, 9 por outras causas) e 7 (outras causas) no grupo que recebeu terapia endócrina (p = 0,16).
A conclusão do estudo favorece o uso de terapia endócrina em mulheres idosas.
Novos resultados de longo prazo são necessários para avaliar sobrevida e sobrevida livre de doença.
Referência: Comparison of quality of life of older women treated with surgery or primary endocrine therapy for early breast cancer: propensity score matched analysis of a large prospective multicentre cohort study