Estudo retrospectivo realizado por pesquisadores chineses na população de Hong Kong mostrou associação positiva entre o uso regular de inibidores de bomba de prótons (IBP) e câncer gástrico. O estudo foi publicado no British Medical Journal GUT. A oncologista Rachel Riechelmann (foto), Diretora de Pesquisa do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG) e Diretora do Departamento de Oncologia do A.C. Camargo Cancer Center, comenta os resultados.
Evidências mostram que a infecção por Helicobacter pylori é associada à gastrite atrófica, que em certos pacientes pode progredir para câncer gástrico. O uso regular de IBP também tem sido associado a gastrite atrófica, particularmente em indivíduos infectados por H. Pylori.
Cheung KS et tal utilizaram uma base de dados de saúde que compreendeu todo o território de Hong Kong. Os pesquisadores identificaram adultos que receberam terapia tripla baseada em claritromicina para tratamento do H. pylori entre 2003 e 2012. Os pacientes que falharam a esse regime e aqueles diagnosticados com câncer gástrico no período de 12 meses após o tratamento foram excluídos, assim como os pacientes que apresentaram úlcera gástrica após a terapia tripla. Para evitar o viés protopático, o estudo também excluiu pacientes que receberam prescrição de IBPs ou antagonistas de receptores de histaminas-2 (H2RA) 6 meses antes do diagnóstico de câncer gástrico.
Resultados
Entre os 63.397 indivíduos elegíveis, 153 (0,24%) desenvolveram câncer gástrico durante um seguimento mediano de 7,6 anos. O uso de IBP foi associado a um risco aumentado de câncer gástrico (HR: 2,44, IC de 95% 1,42 a 4,20).
Doses elevadas e longa duração da terapia foram associadas a um risco ainda maior de câncer gástrico (HR: 4,6 para uso diário e 8,3 para uso diário por período superior a 3 anos).
A conclusão dos autores indica que o uso regular de IBP está positivamente associado ao aumento do risco de câncer gástrico, mesmo após a terapia de erradicação de H. pylori.
“Neste estudo retrospectivo, o uso crônico de IBP aumentou o risco de câncer gástrico entre pacientes infectados pelo H. Pylori. É um estudo gerador de hipótese que não prova causalidade, mas sugere que mais estudos devam ser feitos para avaliar o real efeito de IBP no desenvolvimento de câncer de estômago”, afirma a oncologista Rachel Riechelmann, Diretora de Pesquisa do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG) e Diretora do Departamento de Oncologia do A.C. Camargo Cancer Center. “Por exemplo, é possível que mudança na microbiota gástrica, decorrente de elevação do pH do suco gástrico, possa explicar o risco aumentado de câncer. Independente se o efeito é real, o estudo traz à tona a questão do uso indiscriminado de IBP, que está associado a vários problemas, entre eles interações medicamentosas potencialmente sérias. Por isso, é crucial que médicos prescrevam IBP com parcimônia”, ressalta a especialista.
Referência: Cheung KS et al. Long-term proton pump inhibitors and risk of gastric cancer development after treatment for Helicobacter pylori: A population-based study. Gut 2017 Oct 31; [e-pub]. (http://dx.doi.org/10.1136/gutjnl-2017-314605)