A carga global do câncer pode ser aliviada pela formação de mais cirurgiões oncológicos. Desta vez, o alerta vem do American College of Surgeons, que ilustra a iniciativa bem sucedida do Memorial Sloan Kettering Cancer Center (MSKCC) através de um programa internacional de treinamento para capacitar mais médicos em oncologia cirúrgica. Os resultados do programa foram publicados na edição de 16 de março do periódico do American College of Surgeons.
Muitos países de baixa e média renda não têm a oncologia cirúrgica como uma especialidade médica e carecem de uma infra-estrutura educacional para responder à carga do câncer. O Memorial Sloan Kettering Cancer Center (MSKCC) mantém o Internacional General Surgical Oncology Fellowship, um programa dedicado à formação de cirurgiões oncológicos em países que precisam aumentar a presença desses profissionais.
“A iniciativa é muito bem-vinda, e vem ao encontro dos nossos propósitos não apenas de formar novos cirurgiões oncológicos para preencher os vazios de assistência, mas também de capacitar cirurgiões gerais que já lidam com o câncer em sua prática diária”, afirma o cirurgião oncológico Felipe Coimbra, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO).
O artigo que descreve o programa educacional do MSKCC mostra que entre os bolsistas internacionais treinados ao longo de mais de 20 anos foram compilados dados completos de 39 participantes. Os resultados apresentados mostram que 21 dos 39 (54%) cirurgiões vieram de países onde o Inglês não é o idioma principal. A Europa foi o continente com o maior número de graduados, 17 de 39 (43%), enquanto apenas 5 de 39 (13%) eram da América Latina. Três dos 39 (8%) eram mulheres. Trinta e um dos 39 formaram novos cirurgiões oncológicos em seus países de origem, multiplicando o treinamento recebido. “Outro aspecto interessante deste programa de formação é que mais do que simplesmente ensinar aspectos técnicos das operações, há uma forte ênfase para que estes cirurgiões se tornem bons educadores, aprendendo sobre bancos de dados, como avaliar os resultados cirúrgicos, e se capacitando para transmitir esse conhecimento”, acrescenta.
O tratamento do câncer é uma das principais prioridades de saúde pública mundial. É nesse contexto que a educação médica assume papel central para qualificar e melhorar a assistência oncológica. “É preciso criar um modelo sustentável de infra-estrutura intelectual e tecnológica para a gestão do câncer", observaram os autores do estudo.
Historicamente, muitos médicos acabavam permanecendo nos Estados Unidos após concluir seu fellowship, mas a proposta do programa do Memorial é mudar essa prática. Os resultados mostram que 80% dos cirurgiões treinados regressaram ao seu país de origem para ajudar a melhorar o tratamento do câncer. Parte significativa também se dedica ao ambiente acadêmico (69%), demonstrando outra face positiva do programa. No entanto, os autores observam que a maioria dos participantes do programa é de países de alta renda, o que limita a generalização dos resultados para configurações menos favorecidas.
Referências: Outcomes of the Memorial Sloan Kettering Cancer Center International General Surgical Oncology Fellowship - Ismael Dominguez-Rosado, Vitor Moutinho Jr., Ronald P. DeMatteo, T Peter Kingham, Michael D’Angelica e Murray F. Brennan - DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.jamcollsurg.2016.01.049