Publicado na edição de agosto do Lancet Oncology, o estudo OE05, randomizado, aberto, de fase III, demonstrou que em pacientes com adenocarcinoma esofágico, a quimioterapia neoadjuvante com quatro ciclos de epirrubicina, cisplatina e capecitabina (ECX) não confere benefício de sobrevida em comparação com o regime padrão atual de dois ciclos de cisplatina e fluorouracil (FC). A oncologista Renata D’Alpino Peixoto (foto), médica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e membro do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG), comenta o trabalho.
Métodos
Pacientes com adenocarcinoma esofágico cirurgicamente ressecável classificados como estágio cT1N1, cT2N1, cT3N0/N1 ou cT4N0/N1 foram recrutados em 72 hospitais do Reino Unido. Os critérios de elegibilidade incluíram performance status 0 ou 1, função respiratória, cardíaca e hepática adequadas, contagem de glóbulos brancos de pelo menos 3×109 células/L, contagem de plaquetas mínima de 100×109 plaquetas/L, e taxa de filtração glomerular de pelo menos 60 mL/min.
Os participantes foram randomizados aleatoriamente (1:1) e estratificados por centro e estágio do tumor para receber como tratamento neoadjuvante dois ciclos de cisplatina e fluorouracil (CF, dois ciclos de três semanas de cisplatina [80 mg/m2 via intravenosa no dia 1] e fluorouracil [1g/m2 por dia via intravenosa nos dias 1-4]) ou quatro ciclos de epirrubicina, cisplatina e capecitabina (ECX, quatro ciclos de três semanas de epirrubicina [50 mg/m2] e cisplatina [60 mg/m2] por via intravenosa no dia 1 e capecitabina [1250 mg/m2] diariamente ao longo dos quatro ciclos).
A esofagectomia de duas fases com linfadenectomia de dois campos (abdome e tórax) foi realizada entre 4 a 6 semanas após a conclusão da quimioterapia. O desfecho primário foi a sobrevida global, e as análises primárias e de segurança foram realizadas na população intent to treat.
Resultados
Entre 13 de janeiro de 2005 e 31 de outubro de 2011, foram recrutados 897 pacientes, sendo 451 atribuídos ao grupo CF e 446 ao grupo ECX. Em 14 de novembro de 2016, 327 (73%) dos 451 pacientes do grupo CF e 302 (68%) dos 446 pacientes do grupo ECX haviam morrido. A mediana de sobrevida foi de 23,4 meses (95% CI 20,6 – 26,3) com CF e 26,1 meses (22,5 - 29,7) com ECX (hazard ratio 0,90 (95% CI 0,77 – 1,05, p=0,19).
Não foi observada toxicidade inesperada de quimioterapia, e a neutropenia foi o evento mais comumente relatado (neutropenia graus 3 ou 4: 74 [17%] de 446 pacientes no grupo CF versus 101 [23%] de 441 pacientes no grupo ECX). As proporções de pacientes com complicações pós-operatórias foram semelhantes entre os dois grupos: 224 (56%) de 398 pacientes com dados disponíveis no grupo CF e 233 (62%) de 374 no grupo ECX; p = 0,089. Um paciente do grupo ECX morreu por suspeita de sepse neutropênica relacionada ao tratamento.
Em conclusão, o estudo demonstrou que quatro ciclos de ECX neoadjuvante pode aumentar o nível de regressão tumoral, mas não leva a benefício de sobrevida em pacientes com adenocarcinoma esofágico em comparação com dois ciclos de CF. Regimes alternativos de quimioterapia e quimiorradiação neoadjuvante estão sendo investigados para melhorar os resultados para esses pacientes.
“Apesar do estudo OE05 ter mostrado que 2 ciclos de CF parecem ser suficientes na neoadjuvância quando comparado a 4 ciclos de ECX para pacientes com adenocarcinoma de esôfago, ele não responde se 2 ciclos de CF é realmente a melhor estratégia, uma vez que a maior parte dos serviços no mundo tem empregado quimiorradioterapia neoadjuvante com carboplatina e paclitaxel para estes pacientes. No entanto, num cenário onde radioterapia não está disponível, é interessante podermos utilizar apenas 2 ciclos de tratamento”, afirma a oncologista Renata D’Alpino Peixoto (foto), do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG).
O trabalho foi financiado pela Cancer Research UK e Medical Research Council Clinical Trials Unit da University College London e está registrado em ClinicalTrials.gov (NCT00041262).
Referência: Neoadjuvant cisplatin and fluorouracil versus epirubicin, cisplatin, and capecitabine followed by resection in patients with oesophageal adenocarcinoma (UK MRC OE05): an open-label, randomised phase 3 trial - Derek Alderson et al - Published: 04 August 2017 - DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S1470-2045(17)30447-3