“Autoridades do Memorial Sloan Kettering Cancer Center violaram repetidamente políticas de conflitos de interesse, fomentando uma cultura na qual os lucros parecem ter precedência sobre as pesquisas e a assistência ao paciente”. A denúncia foi publicada 4 de abril no New York Times (NYT), depois que uma auditoria externa, a Debevoise & Plimpton’s Advogados, apontou “descumprimento de políticas” e “lapsos éticos” nas relações entre médicos e corporações, especialmente farmacêuticas.
A decisão de passar a limpo as políticas que regem o relacionamento dos médicos com grandes corporações partiu do próprio Memorial, diante das evidências apontadas em 2018 pela ONG ProPublica, uma rede de jornalismo independente que acusou altos executivos e membros da diretoria do MSKCC de lucrar com relacionamentos com empresas farmacêuticas. Foi o que motivou a renúncia de José Baselga, então diretor médico do Memorial, e resulta agora em um novo posicionamento institucional.
"Analisamos profunda e honestamente o que deu errado em nossa instituição, examinamos o que estava ocorrendo na comunidade de pesquisa em câncer e passamos a implementar práticas que nos permitirão aprender com nossos erros, mas também contribuir com a comunidade de pesquisa em geral ”, disse em comunicado o presidente do Conselho de Supervisores e Gerentes do MSKCC, Scott Stuart.
Entre as mudanças incorporadas pelo MSKCC, o NYT destaca a criação de um comitê especialmente criado para a supervisão de conflitos de interesse, além de uma política que institui auditorias regulares no hospital e passa a divulgar publicamente no site institucional os conflitos de interesse de membros do corpo docente, médicos e pesquisadores. As práticas adotadas pelo MSKCC desde o escândalo que culminou com a saída de Baselga também influenciaram outros importantes centros de oncologia a reconsiderar suas políticas, como o Dana-Farber Cancer Institute, em Boston, e o Fred Hutchinson Cancer Research Center, em Seattle, diz o NYT.
Em perspectiva, não está apenas a relação com as farmacêuticas. A ProPublica e o NYT descrevem como altos funcionários do Memorial cultivavam relacionamentos lucrativos com uma startup de inteligência artificial, Paige.AI, fundada por um membro do conselho executivo do MSKCC, em aliança com o presidente do departamento de patologia e o chefe de um dos laboratórios de pesquisa. “O hospital celebrou um acordo exclusivo com a empresa para licenciar imagens de 25 milhões de lâminas de tecido de pacientes coletadas ao longo de décadas”.
Para evitar que situações como essas venham a se repetir, o Memorial vive uma verdadeira revolução, mas, certamente, deixa lições importantes.
Referências: https://www.propublica.org/article/memorial-sloan-kettering-leaders-violated-conflict-of-interest-rules