A edição de janeiro do Lancet Oncology publicou consenso da Sociedade Europeia de Radioterapia e Oncologia (ESTRO) com recomendações para radioterapia com hipofracionamento no câncer de mama inicial. O consenso tem participação do brasileiro Gustavo Nader Marta (foto), do Hospital Sírio-Libanês, e analisa regimes de hipofracionamento moderado e ultra-hipofracionados, com orientações que vão da seleção de pacientes à definição do volume-alvo para cada indicação.
Para a radioterapia de toda a mama, nas últimas duas décadas, os autores destacam que o hipofracionamento moderado (40–42 56 Gy em 15–16 frações ao longo de 3 semanas) mostrou ser pelo menos tão eficaz no que diz respeito as taxas de sobrevida global e controle local e regional, com efeito semelhante ou menor nos tecidos normais quando comparado ao esquema convencional (50-50,4Gy em 25 – 27 frações).
“Além disso, os dados mostram que a irradiação ultra-hipofracionada de toda a mama, entregue em cinco frações diárias para um total de 26 Gy, não é inferior em 5 anos em termos de recorrência local com taxas toxicidades agudas e tardias semelhantes ou menores na comparação com o hipofracionamento moderado”, reforça a ESTRO. “No entanto, o hipofracionamento ainda não é usado em todo o mundo, apesar da abundância de evidências de nível 1 apoiando seu uso “, alertam os especialistas.
“Um outro importante aspecto apresentado no estudo se relaciona com a apresentação dos critérios de seleção e esquemas de tratamento para a realização da radioterapia parcial da mama”, destaca Nader Marta.
No contexto da pandemia de COVID-19, a proposta do Consenso assume relevância ainda maior, considerando que menos visitas de tratamento são bem-vindas pelos pacientes e suas famílias, sem falar que frações reduzidas produzem economia para os sistemas de saúde. Esta é a primeira recomendação de consenso da ESTRO para a seleção de pacientes e fracionamento de dose para radioterapia no câncer de mama inicial, incluindo regimes de hipofracionamento moderados e ultra-hipofracionados para mama total, parede torácica e irradiação parcial da mama.
“O consenso é oportuno e não é apenas uma estrutura pragmática para oncologistas de radiação, mas fornece uma proposta para o caminho a seguir para influenciar formuladores de políticas e capacitar os pacientes para garantir a equidade de acesso à radioterapia baseada em evidências”, destacam os autores.
Referência: Meattini I, et al. European Society for Radiotherapy and Oncology Advisory Committee in Radiation Oncology Practice consensus recommendations on patient selection and dose and fractionation for external beam radiotherapy in early breast cancer. Lancet Oncol. 2022 Jan;23(1):e21-e31. doi: 10.1016/S1470-2045(21)00539-8. PMID: 34973228.