Onconews - Consumo de carne, quanto é seguro?

Buzaid ASCO2018 NET OKEditorial do Lancet discute o consumo de carne e defende que é preciso ampliar o debate. Afinal, qual a quantidade saudável de carne na dieta? O oncologista Antonio Carlos Buzaid (foto), Diretor Médico Geral do Centro de Oncologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, e membro do comitê gestor do Centro de Oncologia do Hospital Albert Einstein, comenta para o Onconews.

 

Entre os argumentos para limitar a ingestão de carne estão os dados de artigo publicado em novembro na PLoS One, indicando que os custos relacionados à saúde atribuíveis ao consumo de carne vermelha e processada vão atingir US $ 285 bilhões em 2020, ou seja 0,3% do PIB bruto mundial. Segundo os autores, 4% de todas as mortes no mundo seriam causadas por uma dieta rica em carne vermelha ou processada. 

Conseguir uma dieta saudável não é tarefa simples e diferentes governos têm lutado para promover mudanças no padrão nutricional, especialmente com esforços para conter o consumo de açúcar ou gordura. Agora, os problemas nutricionais e de saúde causados ​​pela carne começam a despertar atenção maior. “Só agora estamos começando a ter uma conversa sobre o papel da carne e as evidências sugerem que nossos hábitos são muito atrasados”, sustenta o Lancet.

Evidências mostram que a produção de carne não afeta apenas o ecossistema pela produção de gases. Os efeitos do sistema de produção também têm impacto no uso de água doce e na acidificação do solo. O editorial cita, ainda, artigo publicado na Science afirmando que o impacto ambiental provocado pela produção de carne é muito maior que as formas menos sustentáveis de manejo vegetal.

Com a expectativa de crescimento da população global, que deve aumentar em um terço entre 2010 e 2050, o debate sobre o papel do consumo da carne e seu impacto na saúde ganha importância ainda maior. Dados da OMS de 2015 classificam alguns tipos de carne como carcinógenos comprovados, trazendo evidências que corroboram a necessidade de mudança de hábitos e de uma reflexão maior sobre o papel da carne na sociedade.

“A Organização Mundial da Saúde (OMS) coloca as carnes processadas como inequivocamente cancerígenas, e a carne vermelha como provavelmente cancerígena. Os governos devem agir para mudar os hábitos alimentares da população como um todo, começando nas escolas. É hora de agir”, enfatiza Buzaid. 

Referências:

The Lancet. (2018). We need to talk about meat. The Lancet, 392(10161), 2237. doi:10.1016/s0140-6736(18)32971-4

Springmann, M., Mason-D’Croz, D., Robinson, S., Wiebe, K., Godfray, H. C. J., Rayner, M., & Scarborough, P. (2018). Health-motivated taxes on red and processed meat: A modelling study on optimal tax levels and associated health impacts. PLOS ONE, 13(11), e0204139. doi:10.1371/journal.pone.0204139