Onconews - Consumo de cítricos e melanoma

Toranja_Laranja_NET_OK.jpgUma nova análise de padrões alimentares entre mais de 100 mil norte-americanos sugere que o consumo frequente de cítricos ─ especificamente toranja (grapefruit) e suco de laranja ─ pode estar associado com um risco aumentado de melanoma. O risco de melanoma foi 36% maior em pessoas que consomem frutas ou sucos cítricos pelo menos 1,6 vezes por dia em comparação com àquelas que consomem pelo menos duas vezes por semana.

O consumo de cítricos não foi associado com um risco aumentado para outros tipos de câncer. Os resultados do estudo que avaliou a relação entre o consumo de cítricos e melanoma foram publicados on-line na edição de 29 de junho do Journal of Clinical Oncology.

Os pesquisadores argumentam que a aparente ligação entre melanoma e consumo de cítricos pode ser devido a níveis elevados de substâncias chamadas furocumarinas, encontradas em frutas cítricas. Pesquisas anteriores mostraram que furocumarinas tornam a pele mais sensível à luz solar, incluindo raios ultravioletas (UV) causadores de melanoma.

“Os dados são provocadores, mas necessitam de confirmação em outros bancos de dados antes de se adotar medidas orientativas sobre dieta em pacientes com pele susceptível a melanoma”, afirmou o oncologista Antonio Carlos Buzaid, chefe geral do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes.

O principal autor do estudo, Shaowei Wu, pesquisador do Departamento de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Warren Alpert da Universidade de Brown, em Providence, Rhode Island, afirmou que embora os resultados possam sugerir que as pessoas que consomem grandes quantidades de grapefruit ou suco de laranja podem estar em risco aumentado de melanoma, é necessário mais pesquisas antes de quaisquer recomendações. "Neste momento, nós não aconselhamos que as pessoas mudem sua dieta, mas aqueles que consomem uma grande quantidade de grapefruit e/ou suco de laranja devem ser particularmente cuidadosos para evitar a exposição prolongada ao sol", recomendou.

Métodos e resultados

A análise incluiu dados sobre 63.810 mulheres do Nurses' Health Study (1984 - 2010) e 41.622 homens do Health Professionals Follow-Up Study (1986 - 2010). Pessoas com histórico de câncer foram excluídas da análise. Para efeitos do inquérito, uma porção de frutas cítricas foi definida como o equivalente a metade de uma toranja, uma laranja, ou um copo pequeno de suco de laranja ou de toranja (6 oz). Informações alimentares foram avaliadas repetidamente a cada 2 a 4 anos durante o seguimento. A incidência de casos de melanoma foi identificada através de auto-relatos e confirmada por registros patológicos.
 
Ao longo de um período de acompanhamento de até 26 anos, 1.840 participantes do estudo foram diagnosticados com melanoma (1,7%). O maior consumo de frutas cítricas em geral foi associado com aumento do risco de melanoma, em homens e mulheres. Após o ajuste para outros fatores de risco, o hazard ratio multivariado para melanoma foi de 1,00 para o consumo geral de cítricos <duas vezes por semana (referência), 1,10 (95% CI, 0,94-1,30) para duas a quatro vezes por semana, 1,26 (95% CI, 1,08-1,47) para cinco a seis vezes por semana, 1,27 (95% CI, 1,09-1,49) para uma a 1,5 vezes por dia, e de 1,36 (95% CI, 1,14-1,63) para ≥ 1,6 vezes por dia (Ptrend <0,001).

A associação foi mais forte para grapefruit, seguida de suco de laranja. Por outro lado, e curiosamente, o consumo de suco de grapefruit ou o consumo de laranjas inteiras não foi associado com o risco de melanoma.

A associação entre grapefruit e melanoma foi independente de fatores como idade e estilo de vida (atividade física, tabagismo, consumo de álcool e café). A taxa de risco multivariada para melanoma comparando as categorias de consumo extremo de grapefruit (≥ três vezes por semana vs nunca) foi de 1,41 (95% CI, 1,10-1,82; Ptrend <0,001). No entanto, a associação foi mais evidente entre aqueles que eram mais suscetíveis a queimaduras solares, como crianças e adolescentes, e aqueles que passaram mais tempo expostos à luz solar direta.

Os autores especulam que os níveis de furocumarinas podem ser mais elevados na fruta inteira que em sucos processados. Não houve associação significativa entre outros alimentos ricos em furocumarinas, tais como cenouras e aipo, e risco de melanoma. "As pessoas muitas vezes cozinham esses vegetais e o tratamento térmico reduz a quantidade de furocumarinas nos alimentos", disse Wu.
 
De acordo com os autores, este é o primeiro grande estudo para investigar a ligação entre furocumarinas e o risco de melanoma. Pesquisas anteriores mostraram que as loções bronzeadoras contendo psoralenos (um grupo de furocumarinas) aumentam o risco de melanoma. O uso a longo prazo de psoraleno oral como parte de uma terapia para a psoríase grave também pode aumentar o risco de melanoma.
 
Em editorial, Marianne Berwick, professora do Departamento de Medicina e Dermatologia da Universidade do Novo México, reconhece que o estudo foi muito grande e os dados foram coletados prospectivamente. No entanto, ela identificou que várias limitações importantes do estudo chamam a atenção, entre elas a população do estudo, composta por profissionais de saúde, que não é representativa da população geral. Para Berwick, o estudo é importante porque o consumo de cítricos é amplamente promovido como parte importante da dieta, com benefícios para doença cardíaca coronária, prevenção do câncer, e efeitos na saúde global.
 
"Não queremos promover uma reação exagerada e levar as pessoas a evitarem produtos cítricos", disse. "O ideal é aconselhar as pessoas consideradas de alto risco a utilizarem múltiplas fontes de frutas e sucos na dieta, além do protetor solar, especialmente se são sensíveis ao sol. Existe claramente uma necessidade de replicação dos resultados do estudo em uma população diferente antes de aconselhar ao público uma modificação na dieta atual", acrescenta.

A pesquisa foi apoiada pelo National Institutes of Health.
 
Referência: Citrus Consumption and Risk of Cutaneous Malignant Melanoma - Shaowei Wu, Jiali Han, Diane Feskanich, Eunyoung Cho, Meir J. Stampfer,Walter C. Willett  e Abrar A. Qureshi