Onconews - Cuidados de fim de vida e caminhos para a assistência oncológica centrada no paciente

sarah ananda gomes 1Estudo que tem como primeira autora a médica Sarah Ananda Gomes (foto), líder nacional de Cuidados Paliativos do Grupo Oncoclínicas, destaca os benefícios de um programa ambulatorial de cuidados paliativos para pacientes com câncer, revelando aumento nas mortes em domicílios ou hospices entre os participantes do programa. Os resultados foram publicados na Cancers, em artigo que tem como autor sênior o oncologista Bruno Ferrari.

Neste estudo, o objetivo foi determinar o impacto de um programa ambulatorial de cuidados paliativos (CPA) na localização do óbito entre pacientes no Brasil. A análise retrospectiva considerou pacientes com câncer que morreram entre janeiro de 2022 e dezembro de 2022, em 32 centros oncológicos privados no Brasil. Os dados foram coletados de prontuários médicos, abrangendo dados demográficos, características do câncer e participação no programa CPA.

Os resultados relatados na Cancers mostram que o estudo envolveu 1.980 pacientes, dos quais 32,3% estavam no programa CPA. Os pacientes participantes do programa ambulatorial de cuidados paliativos eram predominantemente mais jovens (idade média ao óbito de 66,8 vs. 68,0 anos, p = 0,039) e mulheres (59,4% vs. 51,3%, p = 0,019) em comparação com os pacientes sem CPA. Os participantes do programa tiveram mais mortes em casa/hospice (19,6% vs. 10,4%, p < 0,001), e a participação no programa ambulatorial de cuidados paliativos previu fortemente a morte em casa (OR: 2,02, IC 95%: 1,54–2,64).

“Nossos achados sugerem impacto significativo do programa CPA no aumento de mortes domiciliares e em hospices entre pacientes com câncer em nossa amostra”, destacam os autores. “Essas conclusões sublinham o potencial dos programas especializados de cuidados paliativos ambulatoriais para melhorar os cuidados de fim de vida, particularmente em países com poucos recursos que enfrentam desafios relacionados com as dimensões sociais e culturais dos cuidados e do acesso aos cuidados de saúde”, acrescentam.

Os cuidados paliativos são um componente fundamental no tratamento de pacientes com câncer, demonstrando benefícios significativos na redução dos sintomas, na melhoria da qualidade de vida e até mesmo no impacto na sobrevida global. Gomes et al. lembram que vários estudos evidenciam a influência positiva da integração precoce dos cuidados paliativos na assistência oncológica, levando a uma mudança de paradigma na abordagem dos cuidados com o paciente de câncer.

No ambiente ambulatorial, a prática de cuidados paliativos está associada a benefícios que vão desde o melhor controle dos sintomas, até melhorias no bem-estar emocional e psicossocial dos pacientes. “Reconhecendo esses benefícios, a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) estabeleceu diretrizes enfatizando a integração dos cuidados paliativos aos cuidados oncológicos”, observa o artigo brasileiro, reafirmando que as diretrizes são voltadas para otimizar o atendimento centrado no paciente.

Entre os indicadores-chave para avaliar a eficácia e adequação das intervenções de cuidados paliativos estão o início oportuno, a avaliação e gestão abrangente dos sintomas, a comunicação eficaz e a tomada de decisões partilhada, a documentação do planeamento antecipado dos cuidados, as medidas de cuidados no fim da vida, incluindo o local da morte, assim como o apoio aos pacientes e suas famílias no percurso da doença.

O estudo tem a participação de Danielle Nunes Moura Silva, Flavia Sorice, Alexandra Arantes, Rafaela Peixoto, Renata Ferrari, Matheus Martins, Alexandre Jácome, Cristiane Bergerot e Andreia Cristina de Melo.

Referência: Gomes, S.A.; Silva, D.N.M.; Sorice, F.; Arantes, A.; Peixoto, R.; Ferrari, R.; Martins, M.; Jácome, A.; Bergerot, C.; de Melo, A.C.; et al. Outpatient Palliative Care Program: Impact on Home Death Rate in Brazil. Cancers 2024, 16, 1380. https://doi.org/10.3390/cancers16071380